UFCSPA - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (2024)

Table of Contents
26/07/2022 – Agora RS Simulação de desastre causará bloqueios no trânsito em Porto Alegre 26/07/2022 – GZH Exercício simulado na Avenida Ipiranga treina atuação de entidades em caso de desastre em Porto Alegre 26/07/2022 – GZH Evento que simulará situações de desastres em Porto Alegre causará bloqueios na Avenida Ipiranga 23/07/2022 – GZH OMS declara varíola dos macacos como emergência de saúde global 21/07/2022 – Folha de São Paulo Moderna protegem contra Covid por mais tempo, diz pesquisa 21/07/2022 – GZH Por que a varíola dos macacos se espalhou agora? 21/07/2022 – BBC Brasil Covid: Animais de estimação podem pegar e transmitir o coronavírus? 15/07/2022 – Veja Saúde De varíola dos macacos a Covid-19: vivemos a era das pandemias? 13/07/2022 – Jornal Extra Classe Cotas: 10 anos de obstáculos, ajustes e avanços 13/07/2022 – CNN Entenda por que vacinas da Covid-19 protegem mesmo diante das mutações do vírus 08/07/2022 – UFRGS Notícias Órgãos federais formalizam acordo de cooperação técnica para atenção à saúde do servidor 06/07/2022 – GZH Antibióticos e antialérgicos: os remédios que mais estão em falta nas farmácias do RS 06/07/2022 – GZH "Mais Vozes": especialistas da área da saúde discutem a baixa procura pelas doses de reforço no RS 04/07/2022 – UFRGS Notícias Pesquisadores gaúchos anunciam criação da Rede BioFood 04/07/2022 – Diário Gaúcho Novas ondas e cepas mais transmissíveis: especialistas refletem como será o próximo semestre da covid-19 01/07/2022 – GZH Estudantes relatam sequência de assaltos perto da UFCSPA, em Porto Alegre 01/07/2022 – G1 RS Testes para covid: o que explica teste negativo em tantos infectados References

26/07/2022 – Agora RS

Link: Simulação de desastre causará bloqueios no trânsito em Porto Alegre; Confira | Agora RS (agoranors.com)

Simulação de desastre causará bloqueios no trânsito em Porto Alegre

Um evento para simular situações de desastre em Porto Alegre causará bloqueios no trânsito nesta terça-feira (26)

A ação, que será realizada na região do Parque Marinha do Brasil, terá início por volta das 13h30, no sentido centro-bairro na avenida Ipiranga, entre a Edvaldo Pereira Paiva e Borges de Medeiros.

O evento, coordenado pela Defesa Civil Municipal, contará com a presença de órgãos como Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal, Samu, Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental), Cruz Vermelha e Copae (Comissão Permanente de Emergências de Porto Alegre). As simulações serão encenadas por voluntários da ONG Liga do Trauma, vinculada à UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre).

Segundo a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), a necessidade de bloqueio total da via será avaliada ao longo do evento. A previsão é que o trânsito seja normalizado a partir das 16h.

26/07/2022 – GZH

Link: Exercício simulado na Avenida Ipiranga treina atuação de entidades em caso de desastre em Porto Alegre | GZH (clicrbs.com.br)

Exercício simulado na Avenida Ipiranga treina atuação de entidades em caso de desastre em Porto Alegre

Atividade ocorreu no bairro Praia de Belas, na tarde desta terça-feira

Acidente de trânsito, vazamento de óleo, incêndio em veículo, pessoas machucadas. Quem passou pelo trecho da Avenida Ipiranga na quadra entre as avenidas Borges de Medeiros e Praia de Belas, na tarde desta terça-feira (26), viu de perto um quadro de desastre. Mas tudo não passou de uma simulação, parte de uma atividade integrada coordenada pela Defesa Civil de Porto Alegre.

O cenário de caos foi todo planejado pelo órgão e teve a participação de outros serviços, como Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Cruz Vermelha e Comissão Permanente de Emergências de Porto Alegre (Copae).

A intenção foi aplicar fundamentos teóricos de resgate e testar o entrosamento das entidades na organização do socorro. Além disso, serviu também para colocar em prática o novo Plano de Contingências de Proteção e Defesa Civil de Porto Alegre, aprovado no dia 22 de junho.

O coordenador da Defesa Civil da Capital, coronel Evaldo Rodrigues, foi quem liderou os trabalhos durante a tarde. Para ele, o mais importante foi colocar em prática a integração.

— O exercício serve, principalmente, para observarmos como as equipes se comportam quando precisam trabalhar em conjunto, cada um dentro do seu propósito — explica o coronel.

A atuação contou com o apoio de voluntários da ONG Liga do Trauma, vinculada à Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). A estudante de Medicina Fernanda Parente, 26 anos, foi uma das “vítimas” do acidente:

— Foi uma experiência mais legal do que o esperado. Foi tudo muito real, abriram o carro, nos tiraram de lá e agiram bem, conseguiram identificar tudo.

Ao longo da atividade, uma equipe de avaliadores acompanhou o processo. Uma nova simulação deverá ocorrer em novembro.

26/07/2022 – GZH

Link: Evento que simulará situações de desastres em Porto Alegre causará bloqueios na Avenida Ipiranga | GZH (clicrbs.com.br)

Evento que simulará situações de desastres em Porto Alegre causará bloqueios na Avenida Ipiranga

Ação acontecerá no sentido centro-bairro, entre a Edvaldo Pereira Paiva e Borges de Medeiros

Um evento para simular situações de desastre em Porto Alegre causará bloqueios na região do Parque Marinha do Brasil na tarde desta terça-feira (26). A ação terá início por volta das 13h30min, no sentido centro-bairro na Avenida Ipiranga, entre a Edvaldo Pereira Paiva e Borges de Medeiros. A estimativa da EPTC é de o fluxo esteja normalizado a partir das 16h. O sentido contrário não será impactado.

Conforme a EPTC, a necessidade de boqueio total da via será avaliada ao longo do processo. Além disso, novas interdições poderão ser feitas se for preciso. Funcionários da empresa estarão no local orientando os motoristas.

O evento, coordenado pela Defesa Civil Municipal, contará com a presença de órgãos como Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal, Samu, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Cruz Vermelha e Comissão Permanente de Emergências de Porto Alegre (Copae).

Segundo o coordenador da Defesa Civil da Capital, coronel Evaldo Rodrigues, um cenário está sendo montado para que sejam simuladas diversas situações de perigo, que envolvam vítimas e exijam mobilização de diversas forças de segurança. Os detalhes dos eventos não estão sendo divulgados, para que os agentes sejam testados ao se depararem com as ocorrências. Os fatos serão encenados por voluntários da ONG Liga do Trauma, vinculada à Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

— A ideia é testar todas as instituições envolvidas, para avaliar o preparo delas quanto ao atendimento e coordenação dos trabalhos — explica o coronel.

O evento ocorre também para colocar em prática o novo Plano de Contingências de Proteção e Defesa Civil de Porto Alegre, aprovado no dia 22 de junho. Uma nova simulação deverá ocorrer em novembro.

— Essas ações servem para validar o plano, para averiguar como ele se encaixa em cada situação — complementa.

COMO SERÁ O BLOQUEIO DURANTE A SIMULAÇÃO DA DEFESA CIVIL

Evento causará interdição no sentido centro/bairro da Avenida Ipiranga

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23/07/2022 – GZH

Link: OMS declara varíola dos macacos como emergência de saúde global | GZH (clicrbs.com.br)

OMS declara varíola dos macacos como emergência de saúde global

Anúncio foi realizado neste sábado pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, fez um pronunciamento neste sábado (23) onde declara a varíola dos macacos (monkeypox) como emergência de saúde global. A doença está espalhada hoje em mais de 70 países e há registros de mais de 16 mil casos, segundo declaração de Tedros Adhanom. Tedros acredita que, desta forma, será possível controlar o surto e interromper a transmissão.

"Decidi declarar uma emergência de saúde pública de alcance internacional", disse Tedros em entrevista coletiva. Em outro trecho da coletiva, o diretor da OMS disse que o mundo necessita de coordenação e solidariedade para combater a doença.

Varíola dos macacos

Antes, a doença estava mais restrita a áreas rurais da África central e continental. Ainda não há consenso sobre o motivo do contágio mais veloz - a transmissão sexual ainda é investigada pelos pesquisadores. A teoria mais difundida entre cientistas é de que isso ocorreu por causa de uma série de mutações no vírus, que depois encontrou na população HSH um primeiro nicho de disseminação.

Apesar do nome, a varíola dos macacos é mais comum em roedores e se restringia majoritariamente a caçadores africanos, onde é considerada endêmica.

— Ela foi descrita assim pela primeira vez porque teve um surto em macacos, que adoeceram assim como nós. Não foram eles que transmitiram a doença para nós — explica Ana Gorini da Veiga, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

— Ainda não sabemos por que esse surto está mais abrangente. Pode ser por uma maior transmissibilidade do vírus, porque hoje temos maior facilidade de transporte e locomoção de pessoas... — aponta Ana. Os primeiros registros dessa nova variante vieram da Espanha e da Bélgica, mas rapidamente os sintomas pipocaram em países como Portugal, Reino Unido e nas Américas.

Um dos principais empecilhos para dimensionar o alcance da monkeypox no Brasil e no mundo tem sido a variedade de manifestações da doença e a subnotificação. Com o período de incubação do vírus podendo variar de 5 a 21 dias, os primeiros sintomas geralmente incluem febre, dor de garganta, de cabeça e no corpo (que em alguns casos leva a uma primeira suspeita de infecção por algum vírus respiratório), além de inchaço dos gânglios. Alguns dias depois, surgem as lesões na pele, com pequenas erupções que podem se espalhar pelos dedos, mãos, braços, pescoço, costas, peito e pernas.

O surgimento dessas feridas nas regiões genital e perineal (entre o ânus e o órgão genital) tem contribuído para que médicos confundam a varíola dos macacos com outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como sífilis e herpes. Pacientes ouvidos pela reportagem relatam que foram medicados com antibióticos e anti-inflamatórios, na primeira consulta após os primeiros sinais da doença. Com a persistência dos sintomas, a maioria deles só foi novamente testada após insistir em um novo diagnóstico ou se dirigir a outro hospital.

Transmissão sexual?

O fato de a varíola dos macacos causar erupções próximas ao genital e se disseminar tão rapidamente entre homens gays e bissexuais tem levantado a hipótese de que essa forma da doença possa ser sexualmente transmissível. Estudos preliminares na Itália e na Alemanha encontraram vestígios do vírus no sêmen de pacientes, mas os dados ainda são poucos para afirmar se a quantidade de carga viral seria suficiente para uma infecção.

— O fato é que temos uma doença transmitida de roedores para humanos e levada para a Europa, onde se disseminou de maneira muito intensa em encontros sexuais casuais, especialmente de homens. O vírus encontrou um nicho epidemiológico, que tem a possibilidade de transmissão adequada — explica Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, infectologista e pesquisador epidemiologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Por enquanto, médicos e cientistas dizem que é possível afirmar com mais segurança que a principal forma de transmissão da monkeypox é pelo contato direto com lesões ou saliva de pessoas infectadas, e não pela penetração sexual, por exemplo. Nesse sentido, o uso de máscara facial é importante, assim como a higiene constante das mãos e manter distância de quem esteja com sintomas, principalmente os visíveis.

— A transmissão não é pelo ato sexual, mas tem apresentado um comportamento que mimetiza essas características. Já temos casos, por exemplo, de alguém que teve a doença sexualmente e transmitiu para uma segunda pessoa do mesmo domicílio de outra forma — aponta Fortaleza. — Ao mesmo tempo, ignorar que ela tem se comportado como uma IST pode fazer com que a gente não dê as orientações necessárias para determinado grupo prioritário.

Sem erros do passado

Esse comportamento singular da monkeypox e sua associação ao ato sexual têm impulsionado queixas de parte da comunidade LGBT+, que encara os alertas específicos para "homens que se relacionam com homens" como uma forma de renovar o estigma criado há décadas sobre esse mesmo público desde o surgimento do HIV. Entre a comunidade médica e científica, essa mesma preocupação de reforçar estereótipos está "no cerne da questão", como aponta o epidemiologista Fábio Mesquita.

— Não queremos cometer os mesmos erros do HIV. Na época, nossa ignorância era muito grande. Olhamos só para o número de casos como se fosse necessariamente associado a uma comunidade — observa ele, que já foi diretor do então Departamento de Doenças de Transmissão Sexual, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e hoje está baseado em Myanmar como membro do corpo técnico da OMS.

E qual seria a forma correta de alertar a população de risco sem cair na estigmatização ou até culpar a comunidade pelo espalhamento do vírus?

— É dizer que, nesse momento, a comunidade precisa ficar atenta, porque está disseminando de forma importante — aponta Mesquita. — Mas também precisamos frisar que não há evidência científica de que a monkeypox ficará restrita a ela (comunidade LGBT+)."

Quem concorda com essa visão é David Uip, infectologista e secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do Estado de São Paulo. Ao Estadão, ele disse acreditar que "informação clara, correta e científica" é o melhor caminho para contornar o preconceito e criar a conscientização necessária tanto no grupo de risco como na população em geral, evitando o que categoriza como "a catástrofe do ponto de vista médico, epidemiológico e social" vista no enfrentamento do HIV.

— Você tem de se prevenir com o que temos de informações disponíveis, sem gerar pânico — aponta Uip, que esteve na linha de frente do combate ao HIV quando a doença explodiu no Brasil, em 1980, e foi inicialmente batizada de "peste gay". — (A monkeypox) não é uma doença letal, pelo menos no momento, mas as pessoas estão muito sintomáticas e sofrendo demais.

Vacinas

Outro paralelo que Uip estabelece entre a monkeypox e o HIV é a falta de vacinas específicas e duradouras para essas doenças. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde a imunização contra a varíola dos macacos já começou, são usadas doses inicialmente desenvolvidas para a varíola humana (smallpox), distribuídas especificamente para a população HSH e com estoque bem aquém do necessário.

— Eu aproveitaria esse momento e encontraria mais informações sobre a monkeypox. Passaram-se 40 anos e ainda não encontramos a vacina para o HIV. O paciente tratado tem outra vida. O que resta, por enquanto, são medicamento e informação — diz.

Por ora, a aquisição de vacinas contra a varíola dos macacos não é uma realidade para o Brasil e nem para a maioria dos países em que a doença já foi encontrada. Questionado ao longo das últimas semanas, o Ministério da Saúde limitou-se a dizer que segue desde maio em tratativas com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a quem atribui a responsabilidade da distribuição de doses.

Perguntas e respostas

Quais os sintomas da varíola dos macacos?

Os sintomas são semelhantes, em menor escala, aos observados em pacientes antigos de varíola: febre, dor de cabeça, dores musculares e dorsais durante os primeiros cinco dias. Depois, aparecem erupções - no rosto, palmas das mãos e solas dos pés -, lesões, pústulas e finalmente crostas.

Como é transmitida?

A infecção nos casos iniciais se deve ao contato direto com sangue, fluidos corporais, lesões na pele ou membranas mucosas de animais infectados. A transmissão secundária, de pessoa para pessoa, pode ser resultado do contato próximo com secreções infectadas das vias respiratórias, lesões na pele de uma pessoa infectada ou objetos recentemente contaminados com fluidos biológicos ou materiais das lesões de um paciente.

Como se proteger e evitar o contágio?

Segundo a Anvisa, o uso de máscaras, o distanciamento e a higienização das mãos são formas de evitar o contágio pela varíola dos macacos. A agência reforçou a adoção dessas medidas, frisando que elas também servem para proteger contra a covid-19.

"Tais medidas não farmacológicas, como o distanciamento físico sempre que possível, o uso de máscaras de proteção e a higienização frequente das mãos, têm o condão de proteger o indivíduo e a coletividade não apenas contra a covid-19, mas também contra outras doenças", disse a agência.

Há vacinas contra a doença?

Não. No entanto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o imunizante Jynneos se mostrou 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos. Ele não está disponível no Brasil. Não é possível, portanto, fazer a imunização aqui. Há estudos científicos em andamento no mundo para avaliar a viabilidade e adequação da vacinação para a prevenção e controle da varíola dos macacos, segundo a OMS.

Quais são as vacinas disponíveis hoje contra a varíola comum?

Por conta da erradicação da varíola em todo o mundo na década de 1980, as vacinas contra a doença pararam de ser produzidas em grande escala. No entanto, alguns países, como os Estados Unidos, mantêm quantidades pequenas dos imunizantes. As vacinas disponíveis hoje são as seguintes: a ACAM2000, da Sanofi Pasteur, e a Jynneos, também conhecida como imvamune ou imvanex, produzida pela Bavarian Nordic, considerada a mais segura e moderna pela Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos EUA.

Tenho marca da vacina no braço, então estou protegido?

O imunizante aplicado nas décadas de 1960 e 1970 no Brasil, em uma campanha nacional que resultou na erradicação da varíola, poderia causar reação no braço e deixar uma cicatriz. Essa marca, no entanto, não é exclusiva desse imunizante: a vacina BCG, usada no controle da tuberculose, também pode deixar marca na pele. Assim, mesmo um profissional de saúde teria problemas para diferenciar as duas e ter certeza da vacinação do indivíduo. Desse modo, especialistas não consideram prudente relacionar a marca do braço à vacinação contra a varíola.

Tenho certeza de ter tomado a vacina da varíola comum. Estou protegido contra a varíola dos macacos?

Esse é um ponto de incerteza no assunto. Alguns especialistas acreditam que sim, mesmo quem foi imunizado antes de 1980 - quando a vacina ainda era aplicada no Brasil - pode ter anticorpos.

— Não temos certeza se o nível de proteção ainda é o adequado do ponto de vista clínico. Alguma proteção pode ter ficado, mas, como (as pessoas vacinadas) não tiveram contato com o vírus, a tendência é de que essa proteção tenha reduzido ao longo do tempo — explica Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale.

Quem deve ser vacinado hoje em países que enfrentam surtos?

Alguns países já sinalizaram investimentos em vacinas contra a varíola. Além dos Estados Unidos, o Reino Unido disponibiliza as duas vacinas para profissionais de saúde e pessoas que viajam para países da África, onde a doença é endêmica. A Alemanha anunciou, na semana passada, ter encomendado 40 mil doses da Jynneos e a França também recomendou a vacinação de trabalhadores da saúde que tiveram contato com infectados. No Brasil, não há posicionamento das autoridades.

O Brasil tem vacina contra a varíola comum para toda a população?

Nem o Brasil nem outros países têm imunizantes para controlar a varíola para toda a população neste momento. Uma campanha nacional, como a que ocorre contra a covid-19 e a gripe, seria feita em um cenário distante do esperado por especialistas, que acham improvável uma disseminação tão ampla que justifique tamanha mobilização. Esse é também o posicionamento da OMS sobre o assunto.

Posso comprar a vacina da varíola?

Não. A reportagem de GZH entrou em contato com duas clínicas particulares de vacinas de Porto Alegre na manhã desta quarta-feira e ambas relataram pedidos pelo imunizante, que não é vendido no Brasil. Outra dúvida relatada pelos estabelecimentos é quanto à confusão dos nomes das doenças: clientes têm pedido a vacina contra a varicela (catapora) como se fosse o imunizante contra a varíola.

Há algum medicamento contra a varíola?

Sim. Um agente antiviral conhecido como Tecovirimat foi autorizado em janeiro deste ano pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para tratar a varíola comum, a varíola dos macacos e a varíola bovina, três infecções causadas por vírus pertencentes à mesma família (ortopoxvírus). O Tecovirimat é utilizado em adultos e crianças com peso mínimo de 13 quilos. No entanto, esse medicamento ainda não está disponível ao público.

Qual a situação da vacina no Brasil?

Em nota à reportagem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que não há medicamento nem vacina registrados e autorizados na agência com a indicação para tratamento ou prevenção da varíola dos macacos ou varíola comum no momento. Além disso, a Anvisa disse não ter recebido solicitação de laboratórios farmacêuticos para o registro de vacinas ou medicamentos para nenhum das doenças. "As vacinas contra a varíola não estão mais disponíveis no mercado para a população geral e como os casos da monkeypox são raros, a vacinação universal não é indicada", informou a Anvisa.

Quais os protocolos de prevenção do Brasil neste momento?

Não há orientação específica para protocolo de abordagem a viajantes que entram no Brasil, que, é bom destacar, não enfrenta surto da doença. De acordo com a Anvisa, esse procedimento deve ser definido a partir de orientação do Ministério da Saúde e OMS, o que não há no momento. O único movimento do MS sobre o assunto é a criação de uma Sala de Situação para monitorar casos da varíola dos macacos no Brasil. "A medida tem como objetivo elaborar um plano de ação para o rastreamento de casos suspeitos e na definição do diagnóstico clínico e laboratorial para a doença", informou a pasta.

21/07/2022 – Folha de São Paulo

Link Folha de SP: Vacinas da Pfizer e da Moderna protegem por mais tempo - 21/07/2022 - Equilíbrio e Saúde - Folha (uol.com.br)
Link Portal Olhar Digital: Pfizer e Moderna protegem da Covid-19 por mais tempo, diz estudo - Olhar Digital

Moderna protegem contra Covid por mais tempo, diz pesquisa

Estudo também aponta que duração de imunidade com doses supera a obtida com infecção natural

Vacinas contra Covid-19 desencadeiam diferentes períodos de imunidade e aquelas que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) são as que protegem por mais tempo, segundo estudo conduzido por cientistas das universidades Yale e da Carolina do Norte publicado na última sexta (15) na revista científica PNAS.

A pesquisa buscou estimar a probabilidade de infecções futuras por Sars-Cov-2 entre quem já contraiu o vírus e em pessoas imunizadas com as vacinas da Pfizer, Moderna, AstraZeneca ou Janssen. Para tanto, os pesquisadores compilaram os dados de dez estudos anteriores que avaliaram a resposta induzida pelos imunizantes e pela exposição ao vírus e compararam o nível de anticorpo IgG anti-S ao longo do tempo.

Tanto os anticorpos por infecção natural quanto os induzidos por vacinas diminuem gradativamente, aumentando a probabilidade de infecções, porém as taxas são diferentes em cada caso.

Segundo os autores, enquanto a mediana do tempo para infecção após a vacinação com doses da Moderna e da Pfizer é de 29,6 meses, a observada com as vacinas da AstraZeneca e da Janssen é de 22,4 e 20,5 meses, respectivamente. No caso das infecções naturais, a mediana é de 21,5 meses.

A partir desses números, os pesquisadores sugerem quando aplicar novas doses. Para permitir não mais do que 5% de probabilidade de infecção futura como consequência do declínio da imunidade, eles indicam que as pessoas totalmente vacinadas com Moderna e Pfizer recebam o primeiro reforço pós-vacinação dentro de um ano e que os totalmente imunizados com AstraZeneca e Janssen tomem a dose de reforço em cinco meses e 4,5 meses, respectivamente.

Para o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor na Unesp e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, o artigo contribui com informações importantes. A primeira é que o pico e a duração da imunidade com vacinas de mRNA são muito maiores do que aqueles por infecção natural, contrariando a ideia de que é melhor se expor ao vírus para adquirir anticorpos. O estudo também confirma que vacinas de mRNA oferecem maior proteção do que aquelas por vetor viral.

"Isso, porém, não inviabiliza os imunizantes de vetor viral porque eles conferem anticorpos e reduzem as chances de hospitalização e óbito", ressalta o professor. Ele destaca também que, com o avanço da variante ômicron, a resposta por infecção natural pode agora ser mais curta do que a indicada no artigo, ampliando a distância entre o nível de proteção por contrair a doença e o oferecido pelas vacinas.

Por outro lado, tanto Barbosa quanto a imunologista Cristina Bonorino, professora da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre) e integrante do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, advertem que o estudo não considerou a ação das células T, imprescindíveis nas respostas antivirais.

"Os anticorpos impedem cargas virais mais altas, mas o que protege mesmo são as células T. É comum as pesquisas analisarem apenas anticorpos porque é mais fácil medi-los, mas essa não é toda a história, não podemos nos basear apenas neles", diz Cristina Bonorino.

Ela comenta que o ideal seria cruzar dados de anticorpos, células T, número de casos e variantes e que ainda não há um modelo matemático para essa análise. "O problema no Brasil é que não temos dados claros do Ministério da Saúde", critica a professora.

Foi por não conseguirem encontrar dados suficientes que os pesquisadores não incluíram a Coronavac em sua análise, conta Jeffrey Townsend, professor na Escola de Saúde Pública de Yale e autor principal do artigo. Ele menciona, contudo, que as durabilidades relativas encontradas na pesquisa parecem corresponder às eficácias relativas apontadas nos ensaios clínicos, então seria possível especular que o tempo de proteção da Coronavac estaria abaixo de AstraZeneca e Janssen.

"Estamos trabalhando agora nos benefícios de diferentes esquemas de reforço. Os resultados ainda não passaram pela revisão por pares, mas é lógico que reforços em intervalos substancialmente maiores do que aqueles que mostramos para o primeiro reforço pós-vacinação provavelmente sejam ineficazes na supressão da infecção", afirma Townsend.

Tanto o pesquisador quanto Bonorino acreditam que esquemas de imunização como o visto no Brasil, com vacinação com Coronavac e reforço com Pfizer, por exemplo, promovem a proteção. As dúvidas são qual combinação é melhor e quando tomar.

A professora observa ainda que, mais do que administrar reforços, o Brasil precisa neste momento priorizar a vacinação de suas crianças. "Elas ficaram sem escola, sem vacina e voltaram às aulas sem imunização, sujeitas a complicações e Covid longa. As crianças são o grupo mais negligenciado na pandemia".

21/07/2022 – GZH

Link GZH: Por que a varíola dos macacos se espalhou agora? | GZH (clicrbs.com.br)
Link Portal R7: Por que a varíola do macaco se espalhou agora? - Notícias - R7 Saúde

Por que a varíola dos macacos se espalhou agora?

No Brasil, já foram contabilizados 592 casos, sendo quatro no Rio Grande do Sul

Desde que extrapolou as fronteiras da África em maio, a varíola dos macacos (monkeypox) já se espalhou por 70 países e teve mais de 15,3 mil registros, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a agência de saúde pública dos Estados Unidos. No Brasil, já foram contabilizados 592 casos, a maioria em São Paulo - mas especialistas acreditam que o vírus esteja mais espalhado, em meio às dificuldades de teste e diagnóstico. No Rio Grande do Sul são 4 casos confirmados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reúne nesta quinta-feira (21) o comitê de especialistas em varíola do macaco para determinar se o atual aumento de casos é uma emergência de saúde pública de alcance internacional, seu nível mais alto de alerta. Este comitê de emergência vai avaliar os índices epidemiológicos.

A doença já foi identificada pela ciência desde 1958, mas agora médicos e pesquisadores tentam entender as causas da velocidade do novo surto e debatem a melhor forma para conter essa ameaça sem aumentar o estigma sobre os grupos mais vulneráveis ao vírus. Entre as estratégias, eles defendem campanhas de orientação focadas e vacinas.

A OMS estima que 98% dos casos de varíola dos macacos notificados em todo o mundo sejam entre "homens que se relacionam com homens" (HSH), o que engloba o grupo de gays e bissexuais, mas não se restringe a eles. No Brasil, médicos de São Paulo relatam percepção semelhante e o boletim mais recente do Ministério da Saúde aponta que essa população corresponde a 100% dos pacientes que declararam a orientação sexual na hora do diagnóstico. Ainda não se sabe o motivo de o contágio ser maior nesse grupo.

Origem

Antes, a doença estava mais restrita a áreas rurais da África central e continental. Ainda não há consenso sobre o motivo do contágio mais veloz - a transmissão sexual ainda é investigada pelos pesquisadores. A teoria mais difundida entre cientistas é de que isso ocorreu por causa de uma série de mutações no vírus, que depois encontrou na população HSH um primeiro nicho de disseminação.

Apesar do nome, a varíola dos macacos é mais comum em roedores e se restringia majoritariamente a caçadores africanos, onde é considerada endêmica.

— Ela foi descrita assim pela primeira vez porque teve um surto em macacos, que adoeceram assim como nós. Não foram eles que transmitiram a doença para nós — explica Ana Gorini da Veiga, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

— Ainda não sabemos por que esse surto está mais abrangente. Pode ser por uma maior transmissibilidade do vírus, porque hoje temos maior facilidade de transporte e locomoção de pessoas... — aponta Ana. Os primeiros registros dessa nova variante vieram da Espanha e da Bélgica, mas rapidamente os sintomas pipocaram em países como Portugal, Reino Unido e nas Américas.

Um dos principais empecilhos para dimensionar o alcance da monkeypox no Brasil e no mundo tem sido a variedade de manifestações da doença e a subnotificação. Com o período de incubação do vírus podendo variar de 5 a 21 dias, os primeiros sintomas geralmente incluem febre, dor de garganta, de cabeça e no corpo (que em alguns casos leva a uma primeira suspeita de infecção por algum vírus respiratório), além de inchaço dos gânglios. Alguns dias depois, surgem as lesões na pele, com pequenas erupções que podem se espalhar pelos dedos, mãos, braços, pescoço, costas, peito e pernas.

O surgimento dessas feridas nas regiões genital e perineal (entre o ânus e o órgão genital) tem contribuído para que médicos confundam a varíola dos macacos com outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como sífilis e herpes. Pacientes ouvidos pela reportagem relatam que foram medicados com antibióticos e anti-inflamatórios, na primeira consulta após os primeiros sinais da doença. Com a persistência dos sintomas, a maioria deles só foi novamente testada após insistir em um novo diagnóstico ou se dirigir a outro hospital.

Transmissão sexual?

O fato de a varíola dos macacos causar erupções próximas ao genital e se disseminar tão rapidamente entre homens gays e bissexuais tem levantado a hipótese de que essa forma da doença possa ser sexualmente transmissível. Estudos preliminares na Itália e na Alemanha encontraram vestígios do vírus no sêmen de pacientes, mas os dados ainda são poucos para afirmar se a quantidade de carga viral seria suficiente para uma infecção.

— O fato é que temos uma doença transmitida de roedores para humanos e levada para a Europa, onde se disseminou de maneira muito intensa em encontros sexuais casuais, especialmente de homens. O vírus encontrou um nicho epidemiológico, que tem a possibilidade de transmissão adequada — explica Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, infectologista e pesquisador epidemiologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Por enquanto, médicos e cientistas dizem que é possível afirmar com mais segurança que a principal forma de transmissão da monkeypox é pelo contato direto com lesões ou saliva de pessoas infectadas, e não pela penetração sexual, por exemplo. Nesse sentido, o uso de máscara facial é importante, assim como a higiene constante das mãos e manter distância de quem esteja com sintomas, principalmente os visíveis.

— A transmissão não é pelo ato sexual, mas tem apresentado um comportamento que mimetiza essas características. Já temos casos, por exemplo, de alguém que teve a doença sexualmente e transmitiu para uma segunda pessoa do mesmo domicílio de outra forma — aponta Fortaleza. — Ao mesmo tempo, ignorar que ela tem se comportado como uma IST pode fazer com que a gente não dê as orientações necessárias para determinado grupo prioritário.

Sem erros do passado

Esse comportamento singular da monkeypox e sua associação ao ato sexual têm impulsionado queixas de parte da comunidade LGBT+, que encara os alertas específicos para "homens que se relacionam com homens" como uma forma de renovar o estigma criado há décadas sobre esse mesmo público desde o surgimento do HIV. Entre a comunidade médica e científica, essa mesma preocupação de reforçar estereótipos está "no cerne da questão", como aponta o epidemiologista Fábio Mesquita.

— Não queremos cometer os mesmos erros do HIV. Na época, nossa ignorância era muito grande. Olhamos só para o número de casos como se fosse necessariamente associado a uma comunidade — observa ele, que já foi diretor do então Departamento de Doenças de Transmissão Sexual, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e hoje está baseado em Myanmar como membro do corpo técnico da OMS.

E qual seria a forma correta de alertar a população de risco sem cair na estigmatização ou até culpar a comunidade pelo espalhamento do vírus?

— É dizer que, nesse momento, a comunidade precisa ficar atenta, porque está disseminando de forma importante — aponta Mesquita. — Mas também precisamos frisar que não há evidência científica de que a monkeypox ficará restrita a ela (comunidade LGBT+)."

Quem concorda com essa visão é David Uip, infectologista e secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do Estado de São Paulo. Ao Estadão, ele disse acreditar que "informação clara, correta e científica" é o melhor caminho para contornar o preconceito e criar a conscientização necessária tanto no grupo de risco como na população em geral, evitando o que categoriza como "a catástrofe do ponto de vista médico, epidemiológico e social" vista no enfrentamento do HIV.

— Você tem de se prevenir com o que temos de informações disponíveis, sem gerar pânico — aponta Uip, que esteve na linha de frente do combate ao HIV quando a doença explodiu no Brasil, em 1980, e foi inicialmente batizada de "peste gay". — (A monkeypox) não é uma doença letal, pelo menos no momento, mas as pessoas estão muito sintomáticas e sofrendo demais.

Vacinas

Outro paralelo que Uip estabelece entre a monkeypox e o HIV é a falta de vacinas específicas e duradouras para essas doenças. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde a imunização contra a varíola dos macacos já começou, são usadas doses inicialmente desenvolvidas para a varíola humana (smallpox), distribuídas especificamente para a população HSH e com estoque bem aquém do necessário.

— Eu aproveitaria esse momento e encontraria mais informações sobre a monkeypox. Passaram-se 40 anos e ainda não encontramos a vacina para o HIV. O paciente tratado tem outra vida. O que resta, por enquanto, são medicamento e informação — diz.

Por ora, a aquisição de vacinas contra a varíola dos macacos não é uma realidade para o Brasil e nem para a maioria dos países em que a doença já foi encontrada. Questionado ao longo das últimas semanas, o Ministério da Saúde limitou-se a dizer que segue desde maio em tratativas com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a quem atribui a responsabilidade da distribuição de doses.

21/07/2022 – BBC Brasil

Link: Covid: Animais de estimação podem pegar e transmitir o coronavírus? - BBC News Brasil

Covid: Animais de estimação podem pegar e transmitir o coronavírus?

No final de junho, um grupo de pesquisadores da Tailândia relatou o primeiro caso conhecido em que um ser humano pegou covid após ter contato com um gato que estava infectado com o coronavírus.

Essa é a quarta espécie animal em que foi documentada a infecção com o patógeno e a possibilidade de transmissão da doença para pessoas — as outras três são os visons, os hamsters e os veados de cauda branca.Mas, afinal, os bichos de estimação podem mesmo pegar covid? A resposta é sim, e há diversos estudos que confirmam essa possibilidade.

Porém, pelo que se sabe até agora, esses casos são raros e a infecção tende a ser bem mais leve neles.A BBC News Brasil ouviu especialistas para entender os potenciais riscos da covid entre os pets — e se existe algo que pode ser feito para protegê-los.

O caso da Tailândia

O episódio aconteceu em agosto de 2021 na cidade de Bangcoc, capital da Tailândia. O relatório completo sobre o caso foi publicado no final de junho deste ano no periódico científico especializado Emerging Infectious Diseases.

Um pai e um filho, cujas identidades foram preservadas, receberam diagnóstico positivo para covid e, seguindo a recomendação local, foram transferidos para uma unidade de isolamento na cidade de Songkhla, localizada no sul do país.Na mudança temporária, eles levaram um gato, que ficou no mesmo quarto deles por alguns dias.

Depois, o animal foi transferido para um hospital veterinário, onde passou por uma avaliação e alguns exames, que depois comprovaram que o bichano também estava com covid.Durante a consulta, na hora em que a veterinária passou o swab (haste flexível) no nariz do gato, ele espirrou.

A profissional usava máscara e luvas, mas estava com os olhos desprotegidos — e foi provavelmente nesse momento que a transmissão do coronavírus para ela aconteceu.Três dias após a consulta, a veterinária estava com febre, tosse e espirros. Um teste confirmou o diagnóstico de covid nela também.

Mas como os cientistas sabem que o patógeno veio mesmo do gato? Ao analisar o histórico da paciente, eles viram que nenhum contato próximo dela estava com covid naqueles dias (o que diminui a probabilidade de a infecção ter ocorrido a partir de outro indivíduo).

Para completar, os autores do trabalho realizaram análises genéticas de amostras colhidas do pai, do filho, da veterinária e do gato. Todos apresentavam a mesma variante do vírus, com sequências genéticas idênticas. Isso, por sua vez, reforçou a possibilidade de a transmissão ter acontecido por meio do gato.

Um 'retorno' à natureza?

A história do gato na Tailândia está longe de ser única.Ao longo dos últimos dois anos, cientistas de várias partes do mundo descreveram outros episódios de animais que também se infectaram com o coronavírus e até desenvolveram alguns sintomas.

Foi o caso de diversas espécies que vivem em zoológicos e santuários, como leões, tigres, leopardos, lontras, gorilas, hienas, quatis, hipopótamos e até peixes-boi.O Sars-CoV-2, coronavírus responsável pela pandemia atual, também foi encontrado em bichos de estimação, como gatos, cachorros, hamsters e furões.

Muito provavelmente, todos esses animais tiveram contato com cuidadores e tutores que estavam com covid.Algumas espécies, porém, não apenas se infectaram, como também há evidências de que tenham transmitido o patógeno de volta para outros seres humanos.

Por ora, são quatro os episódios que se encaixam nessa categoria: os visons (ou minks, animais usados pela indústria de casacos de pele) na Europa, os hamsters em Hong Kong, os veados de cauda branca no Canadá e, mais recentemente, o gato na Tailândia.Esse fenômeno é descrito entre os especialistas com o termo spillback (algo como "retorno", em tradução livre para o português).

Ele é um processo contrário ao spillover (algo como "transbordamento"), que acontece quando um patógeno que circula numa espécie passa a afetar algumas outras.O spillover foi o que provavelmente aconteceu com o Sars-CoV-2: a tese mais aceita é a de que ele infectava apenas morcegos no Sudeste Asiático quando sofreu uma série de mutações genéticas que permitiram que ele "pulasse", ou "transbordasse", para seres humanos e começasse a ser transmitido de pessoa para pessoa.

"Cerca de 75% das doenças infecciosas que nos afetam surgiram a partir de outros animais. Os vírus, bactérias, fungos e protozoários estão lá, no hospedeiro natural, como um animal silvestre, sofrem mutações e adquirem uma afinidade por um novo hospedeiro", detalha a bióloga molecular Ana Gorini da Veiga, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

A pesquisadora lembra que essa não foi a primeira vez que um coronavírus "pula" para os seres humanos nas últimas duas décadas. Em 2002, o Sars-CoV passou por morcegos e civetas até chegar a nós. Já em 2011, o Mers-CoV, antes restrito a morcegos, camelos e dromedários, ganhou a habilidade de circular entre as pessoas.

Em paralelo ao spillover, o spillback também aconteceu com o causador da covid, o Sars-CoV-2: várias espécies de animais, que antes não eram afetadas por esse patógeno, também começaram a ser infectadas de 2020 para cá.

Devo me preocupar?

Apesar dos casos documentados, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que a infecção pelo Sars-CoV-2 é muito rara em outros animais."Por mais que exista a possibilidade de infecção e ela não seja nenhuma surpresa para nós, a afinidade deste coronavírus com as demais espécies é muito pequena", esclarece o virologista Paulo Eduardo Brandão, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.

E nada indica que o patógeno esteja evoluindo para infectar com mais voracidade outros seres além dos próprios humanos."O Sars-CoV-2 é um vírus muito seletivo em termos de hospedeiro. E a chegada das novas variantes mostra que ele está ficando cada vez mais especializado em nos infectar", analisa o cientista.

"Portanto, pelo que sabemos até agora, os animais não têm nenhuma importância na transmissão deste patógeno e raramente desenvolvem sintomas", completa.

Algumas precauções básicas

Uma pessoa que está com covid e precisa se isolar em casa deve tomar algum cuidado especial com os animais de estimação?Os especialistas orientam manter um certo distanciamento do bicho, caso seja possível.

"Muitas vezes, durante a quarentena, o animal é uma ótima companhia. Porém, se você for ficar no mesmo ambiente, vale manter um distanciamento, usar máscara e reforçar os cuidados de higiene", orienta Gorini.

Brandão reforça que, se não tiver jeito de restringir o contato, manter o convívio com o pet não vai representar uma grande ameaça. "Não podemos repetir o que aconteceu em 2020, quando vários animais foram abandonados por seus tutores", diz.

"Ou seja: se você puder se isolar e outra pessoa cuidar do animal, melhor. Mas se você mora sozinho ou não tem com quem deixar, pode manter a rotina dentro de casa", resume.O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos orienta que não se deve colocar máscaras nos animais — isso pode até causar algum mal à saúde deles.

Também não há necessidade de passar álcool em gel, desinfetante ou outros produtos de limpeza nas patas, no pelo ou na pele dos bichinhos.Por fim, vale sempre conversar com o veterinário se o seu animal de estimação apresentar algum sinal atípico, abandonar a rotina, sentir-se prostrado e parar de comer, beber água ou fazer cocô e xixi.Esses sintomas podem significar que ele está com alguma doença — e o diagnóstico precoce permite iniciar o tratamento com rapidez.

15/07/2022 – Veja Saúde

Link: De varíola dos macacos a Covid-19: vivemos a era das pandemias? | Veja Saúde (abril.com.br)

De varíola dos macacos a Covid-19: vivemos a era das pandemias?

Não é impressão: as doenças infecciosas estão com tudo. Precisamos nos preparar melhor para enfrentá-las

É comum ler por aí que a pandemia de Covid-19 pegou o mundo de surpresa. A ideia é sedutora, uma vez que nos exime de certa responsabilidade, mas só em parte verdadeira.

Claro, pouca gente apostaria nos coronavírus como futuro grande problema da humanidade, apesar dos sustos provocados por seus parentes Sars e Mers em 2003 e 2012. Mas surtos assustadores de doenças, assim como o surgimento de novos patógenos, são um fenômeno natural na nossa história. E uma ameaça em ascensão há pelo menos duas décadas.

No hoje clássico Contágio (Companhia das Letras – clique para comprar*), de 2012, o escritor de ciências americano David Quammen já examinava uma série de epidemias recentes e lançava suposições sobreo que estava por vir.

Suas indagações foram proféticas! “A Próxima Grande Pandemia será causada por um vírus? Sairá de uma floresta pluvial ou de um mercado no sul da China? Matará 20 ou 30 milhões de pessoas?”, escreveu.

Menos de dez anos depois, não é preciso ser um virologista para responder às perguntas feitas por Quammen. Sim, chegou um vírus. Se não de um mercado, de algum lugar do centro da China. E vitimou, até agora, 6 milhões de pessoas — número subestimado, que continua subindo.

Foi a primeira vez que cientistas tiveram a oportunidade de testemunhar uma doença desconhecida se espalhar de forma tão rápida e avassaladora. Do ponto de vista tecnológico, respondemos à altura, com vacinas feitas em tempo recorde, novos medicamentos e o estudo profundo da genética viral.

Mas também ficou evidente que não basta pesquisa de ponta. Porque, além de causar estragos maiores que sintomas físicos, um vírus dessa magnitude só pode ser contido com o emprego de recursos mais antigos, que estão caindo em desuso, como empatia e respeito à natureza.

Eis uma lição a ser (re)aprendida sempre. Para os experts, a próxima pandemia é questão de tempo. E a Covid, mesmo sem ter acabado, seria uma amostra do que vem por aí.

(ver imagem pelo link)

Estima-se que, de cada dez doenças contagiosas, seis sejam zoonoses, isto é, transmitidas originalmente de animais para humanos. E pode ser que parte das outras quatro, como o sarampo, tenha em algum momento — centenas ou milhares de anos atrás — saltado de outro bicho e se adaptado para colonizar a humanidade.

Como Quammen diz em Contágio, as infecções são “uma espécie de cimento natural que liga uma criatura a outra”. O vírus influenza coabita em nós, nas aves migratórias e nos porcos. É graças a essa interação que ele sofre mutações periódicas que lhe conferem a habilidade de enganar o sistema imune do hospedeiro.

O HIV, causador da aids, foi uma zoonose um dia. O ebola também: salta periodicamente de um reservatório animal ainda misterioso para outro hospedeiro, mais próximo do homem. Causa surtos esporádicos e autolimitados, dada a alta letalidade da doença, e depois se esconde de novo na natureza.

O Sars-CoV-2 é o mais novo membro dessa categoria, já que havia vírus muito parecidos com ele habitando morcegos em cavernas no sul da Ásia.

Sim, vira e mexe surge um micróbio estranho em um animal de criação ou selvagem manipulado por um ser humano. Mas esses eventos são, em geral, contidos, porque o ente misterioso não estava pronto para atacar nossas células.

Acontece que os vírus, os principais agentes pandêmicos, mudam e aprendam rápido. Sua genética volátil permite que eles logo se acomodem no ambiente. "Um dos fatores que garantem seu sucesso é a capacidade de se adaptar para se transmitir de pessoa para pessoa", afirma a virologista Viviane Fongaro Botosso, diretora do Laboratório de Virologia do Instituto Butantan.

Ouvimos falar muito de mutações e variantes nos últimos anos, mas vale recapitular pontos importantes sobre elas. Primeiro, não acontecem de propósito. Toda vez que um ser vivo (ou um vírus, que não é bem “vivo”, já que depende de um hospedeiro) se reproduz, seu material genético é duplicado.

A cada cópia, existe a possibilidade de um erro: a mutação.

Os organismos complexos têm mais mecanismos para conter essas falhas e uma reprodução lenta. Nos vírus, a replicação ocorre em uma velocidade inimaginável. Eles não têm nada para fazer exceto isso, nenhuma outra instrução em seu genoma. A maioria desses erros nem chega a ser detectada. "Mas, dessa imensa diversidade genética, pode ser que surjam uma ou duas alterações que confiram benefícios a ele", conta o virologista Paula Eduardo Brandão, da Universidade de São Paulo (USP) e colunista da Veja Saúde.

Essa mutante aprimorada, apta a entrar mais facilmente nas células de um novo hospedeiro ou fazer suas cópias ainda mais rápido, pode ou não ser favorecida pelo ambiente. Caso isso aconteça, é mais provável que se replique, se espalhe e domine o pedaço. É a teoria da evolução sendo comprovada em tempo real e escala microscópica.

“Se compararmos a velocidade evolutiva de um coronavírus e um hospedeiro mamífero, como nós, teremos algo como um ônibus espacial e uma tartaruga apostando corrida”, diz Brandão. O caso da varíola dos macacos, que vem deixando o mundo em alerta, é ilustrativo.

O vírus monkeypox causa há décadas surtos eventuais e localizados da doença, hoje disseminada no mundo. Ele se esconde nesse meio-tempo em seu reservatório animal, que são os roedores (sim, o nome não faz jus à verdade). Agora, parece adaptado para se transmitir melhor entre o superpopuloso hom*o sapiens, numa era em que as viagens são mais acessíveis e o tempo para ir de um continente a outro é medido em horas.

É como tentar a sorte numa loteria: quanto mais bilhetes você comprar, mais chances tem de ganhar. E o mundo criado por nós se tornou uma casa de apostas muito generosa para os vírus.

Em abril deste ano, pesquisadores da Universidade Georgetown, nos Estados Unidos, e da ONG EcoHealth Alliance publicaram na revista científica Nature um artigo cuja conclusão evoca um iceberg: estamos diante de um problemão, mas só vemos sua ponta.

Eles calcularam as chances de trocas de vírus entre espécies diferentes nestes tempos de mudanças climáticas. Para isso, simularam, com a ajuda de dados reais e muita matemática, o comportamento passado, atual e futuro de mais de 3 mil espécies de mamíferos.

As conclusões falam por si: mesmo se o aquecimento global for contido, nas próximas décadas haverá mais de 300 mil primeiros encontros entre animais que não se esbarravam antes. Isso levará a pelo menos 15 mil spillovers, termo em inglês para o salto interespécies que os vírus são capazes de fazer.

Ao deparar com populações suscetíveis, com sistemas imunes “virgens”, patógenos têm um novo nicho ecológico a ser explorado. “As pesquisas mostram que, com o aumento das temperaturas, as espécies migram para habitar regiões de clima mais ameno, facilitando esses eventos, que acontecerão próximos a zonas de atividade humana”, explica a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC).

Esses saltos nem sempre terão grandes repercussões. Mas é aquilo: água mole em pedra dura…

A EcoHealth Alliance, que há décadas monitora a saúde dos animais, começou a trabalhar nessa simulação em 2019, na tentativa de antecipar como seria o futuro. E descobriu, no fim das contas, que estava projetando o presente. “O mundo já esquentou o suficiente para favorecer esses encontros entre espécies”, crava Natalia.

Convém lembrar que o clima não mudou por capricho solar, mas pelo uso de combustíveis fósseis e a emissão de gases poluentes em fábricas e queimadas.

Essa nova era, mais quente e catastrófica — basta ver as enchentes recentes e suas mais de 450 vítimas brasileiras em 2022 —, é chamada por alguns especialistas de Antropoceno. Um período em que o homem tem tanta influência no meio ambiente a ponto de batizar uma era geológica. Faz sentido, mas, se tem algo que pode competir em pé de igualdade conosco, são os vírus. Quando recebem uma forcinha nossa, então…

Tanto que, depois da publicação do artigo na Nature, os autores passaram a propor um novo termo para estes tempos: Pandemiceno, um ciclo marcado pela proliferação de agentes infecciosos emergentes.

Frente ao consumo desenfreado e às mudanças climáticas, plantar, para nós ou para nossos rebanhos, está cada dia mais difícil. E ainda tem gente pensando que a saída é abrir mais lavouras em vez de buscar meios sustentáveis de cultivo.

Ao expandirmos a fronteira agrícola e mudarmos ecossistemas para plantar áreas enormes de um único vegetal, animais silvestres perdem seu habitat e se aproximam dos domesticados para cultivo, que podem se tornar novos reservatórios virais ou, mais provavelmente, hospedeiros amplificadores: criaturas em que o vírus pode se esconder e evoluir até chegar ao homem.

Tem outra coisa. Com a devastação da mata nativa, espécies ficam isoladas em territórios menores. “Isso leva a uma perda de diversidade genética que pode piorar a resposta imune dos animais aos vírus, um processo que pode ser intensificado pela presença de poluentes como fertilizantes, microplásticos e resíduos industriais”, observa o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS).

Algo parecido pode ter acontecido com a própria Covid-19. “Foram encontrados vírus geneticamente muito similares ao Sars-CoV-2 em morcegos do Sudeste Asiático. E esses animais apresentavam uma diversidade muito baixa nos genes responsáveis pela resposta imune, provavelmente porque ficam restritos a pequenas famílias que se reproduzem entre si”, explica Spilki.

Isolados, estressados e sem comida suficiente, os bichos são obrigados a migrar para sobreviver disputando território com predadores e… patógenos! E pode apostar que tem patógeno em tudo que é canto, até em terras e águas congeladas. Áreas da Sibéria que outrora se resumiam a gelo e hoje derretem a toque de caixa escondem vírus milenares desconhecidos, que podem ser reativados (um deles já foi).

É, de fato, a ponta de um iceberg.

Por fim, o estudo da Nature só estava falando de mamíferos. O vírus influenza, que encabeça a lista de preocupações de virologistas e infectologistas, se aloja em pássaros migratórios. “Se uma ave perde seu local de pouso porque ele foi destruído, tende a se aproximar de outros animais, como os porcos, nos quais o influenza pode sofrer rearranjos que formem novas cepas, transmissíveis entre humanos”, descreve Viviane.

Em suma: toda vez que cortamos uma árvore ou degradamos um terreno, mexemos com um reino invisível de micro-organismos. E esse é só mais um dos motivos pelos quais se fala tanto em conservar a biodiversidade.

A saída não é exterminar preventivamente hospedeiros e vetores virais. Longe disso! Tampouco dá para pensar na natureza sem os vírus. “Para muitos teóricos, eles podem ter dado origem à vida”, diz Brandão.

O professor da USP se refere a uma ideia de que a vida na Terra teria começado com uma sopa de RNA, a forma genética mais simples. Até que, por acaso, uma modificação conferiu a essas moléculas a capacidade de se grudar num lipídio, depois fazer novas proteínas, e por aí vai… Teriam nascido os vírus e, depois, os organismos celulares.

Já foram encontrados vírus fossilizados com mais de 100 milhões de anos. E eles têm papéis importantes. Alguns coordenam o ciclo de vida de fitoplânctons do oceano, responsáveis pela emissão da maior parte do oxigênio na atmosfera. “Outra função relevante é a de regular a expressão de alguns genes humanos, pois temos partes de genoma viral no nosso próprio DNA, incorporados em encontros ocorridos no passado”, exemplifica Brandão.

Se não deram o pontapé para a vida na Terra, sem dúvida os vírus são decisivos para sua manutenção. Não somos nós ou eles; somos nós e eles.

A convivência em harmonia depende da vigilância ativa — uma rede capaz de vislumbrar e conter os espécimes que se tornam patogênicos e problemáticos para nós e outros animais — e de dar espaço à natureza. “Quando o vírus Hendra assustou a Austrália, em 1990, tomaram-se medidas para que o morcego transmissor permanecesse intocado e longe dos cavalos, os principais afetados pela doença. Com o tempo, o equilíbrio se restabeleceu”, recorda Spilki.

Os “pontos quentes” para saltos interespécies, segundo as projeções e o histórico, são a África Central e o Sudeste Asiático, regiões de altíssima biodiversidade e habitat de centenas de espécies de morcegos, que são ótimos reservatórios naturais para vírus.

Mas a interferência nos ecossistemas brasileiros, tão ricos e, se bobear, mais ameaçados, traz o dilema para o nosso quintal. “Aqui existe um alto potencial para a introdução de novos patógenos”, afirma a veterinária Andrea Paulo Bruno von Zuben, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde de Campinas (SP).

Evidências recentes corroboram seu alerta. Um estudo publicado no periódico Science Advances aponta que dois terços dos estados brasileiros apresentam risco de médio a alto para surtos de zoonoses.

A pesquisa, liderada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), destaca que a degradação ambiental, somada à vulnerabilidade social da população das cidades (que já não dispõem de muita vegetação e planejamento urbano), contribui para a disseminação das zoonoses.

De novo, não estamos falando de futuro. Na verdade, é o presente em jogo — ou, se preferir, uma volta do passado. “A raiva, por exemplo, estava praticamente erradicada do nosso meio. Agora, os morcegos se tornaram mais importantes do que os cães e ratos na transmissão, e as pessoas não sabem disso”, revela Andrea. Leishmaniose e malária, outrora doenças rurais, estão se tornando mais urbanas.

De olho nisso, a Fiocruz está encabeçando um novo projeto, batizado com o sugestivo nome de Harmonize. Na iniciativa, cientistas do Brasil e de outros países irão monitorar o impacto das mudanças climáticas na propagação de doenças infecciosas.

O principal foco é a dengue, cujo comportamento mudou radicalmente nos últimos anos. “Depois de décadas vivendo em áreas litorâneas e grandes cidades dos arredores, ela se instalou de maneira permanente em Goiás, Minas Gerais e no sul do país”, nota Christovam Barcellos, da Fiocruz, um dos coordenadores da iniciativa.

Ao chegar a uma cidade nova, a dengue faz estragos porque ninguém está preparado para reconhecê-la e enfrentá-la. “No Rio Grande do Sul, eram menos de 4 mil casos por ano, e esse número foi ultrapassado em dez vezes. Em 2004, eram cerca de cinco municípios com o mosquito transmissor. Hoje são mais de 450”, calcula Spilki, que é gaúcho e vê a transformação de perto.

A dengue pode até não se encaixar na quase mítica categoria dos vírus respiratórios que tomam de assalto o planeta, mas deveria preocupar tanto quanto. O aumento de casos indica que a população do seu vetor, o Aedes aegypti, também cresceu, disputando e conquistando com sucesso terrenos novinhos em folha.“Ele era apenas mais um dos insetos das cidades, e hoje se tornou um dos principais, respondendo por 80% da população de mosquitos urbanos”, ressalta Barcellos.

Quanto mais Aedes livres e soltos, maiores as chances de vírus carregados por eles se multiplicarem e sofrerem mutações. E, assim, novos (ou não tão novos) patógenos provocarem consequências antes impensáveis.

O zika, outro vírus que pega carona no mosquito listrado, era conhecido desde os anos 1940, mas ninguém dava muita bola pra ele. Até que chegou ao Brasil em 2014 — supõe-se que por meio de turistas que vieram para a Copa do Mundo. Aqui, encontrou um vetor perfeitamente adaptado ao ambiente tropical. Deu no que deu.

Mais do que os sintomas típicos da dengue (febre e dores no corpo), o zika pode passar de uma mãe grávida para seu bebê, levando à microcefalia, quadro de malformação do crânio e do cérebro que afetou, só em 2015, mais de 2 mil crianças brasileiras. A ideia do projeto Harmonize é tentar entender melhor essas dinâmicas e antever surtos tão trágicos.

Espiar as doenças que circulam nos animais é um dos caminhos para se antecipar nessa luta pela sobrevivência. Outro é não ignorar os micro-organismos que já estão entre nós, como mostra a história do zika.

Em um mundo globalizado, o fato de uma superpopulação de mosquitos dominar um território latino ou uma zoonose letal emergir lá na África não quer dizer que só países dessas regiões devem ficar de vigia. E uma prova concreta disso é o que vivemos nos últimos dois anos.

Em 2017, a Nigéria encarou um surto atípico de varíola dos macacos, e a comunidade internacional praticamente ignorou o assunto até que o vírus batesse na porta das casas europeias e canadenses. “Como essas doenças ocorrem pouco fora do continente, se investe pouco em vacinas e remédios. Então, quando acontece um surto, há menos recursos para lidar com eles”, resume Iruka Okeke, microbiologista da Universidade de Ibadan, na Nigéria.

Seu objeto de pesquisa é outra ameaça microbiana que deveria ser mais alardeada pelo planeta: as infecções resistentes a antibióticos — sim, bactérias também semeiam o terror em nível epidêmico.

Para Iruka, e muitos outros especialistas, infecções endêmicas precisam ser mais bem controladas por meio de coordenação global e ação local. “Nações afetadas deveriam direcionar mais recursos e infraestrutura para isso, uma vez que não há interesse global. Mas deveria haver, porque estamos tão interconectados que a fraqueza de um país se torna a fraqueza de todos os países”, reflete a nigeriana.

Já existem meios de monitorar com frequência as zoonoses à espreita e detectar o que está por trás de sintomas atípicos num fazendeiro ou trabalhador de frigorífico. E eles evoluíram bastante nos últimos anos. Quando outro coronavírus “pulou” dos morcegos para as civetas, um pequeno mamífero asiático, e depois causou 774 mortes entre humanos em 2003, só se identificou adequadamente o agente infeccioso quando o surto se encaminhava para o fim.

Desta vez, a pandemia misteriosa de outro coronavírus surgiu em dezembro de 2019 e, em janeiro de 2020, o governo chinês já havia divulgado o nome e a assinatura genética do novo patógeno.

De fato, hoje é possível sequenciar — isto é, soletrar as letras que formam o código genético — um vírus rapidamente. Em geral, utiliza-se a técnica PCR, famosa com a Covid-19, para buscar agentes já conhecidos. E os supercomputadores entram interpretando esses dados para tentar prever o comportamento do patógeno.

Há ainda a metagenômica. “É uma tecnologia que detecta todos os nucleotídeos [moléculas que formam o DNA ou o RNA] de uma amostra, e depois recorre à bioinformática para comparar esses fragmentos com milhões de possibilidades de bancos de dados e fazer simulações. É como usar uma rede de pesca gigante e analisar tudo o que for pego por ela”, explica John Hackett, vice-presidente de pesquisa aplicada e tecnologia da Abbott, empresa que desenvolve testes para diagnóstico viral.

Tais avanços podem resolver buracos atuais no nosso entendimento sobre o tema. “Estimamos que até 30% das infecções respiratórias e até 15% das hepatites não sejam corretamente diagnosticadas”, relata Hackett.

Aliás, a menção às hepatites nos lembra de outro enigma recente, a infecção aguda no fígado de origem desconhecida que vitimou cerca de 20 crianças pelo mundo. Com tanta tecnologia, é de se perguntar: como a ciência não encontrou a causa dela? “O problema é que o fato de o vírus estar ali não significa que é ele que está causando a doença”, comenta Hackett.

É mais uma amostra da complexidade do Pandemiceno e suas implicações no longo prazo — até porque se ventila a possibilidade de ser o próprio Sars-CoV-2 um dos causadores da tal hepatite misteriosa. E mais uma prova de quão essencial é estudar profundamente os micróbios.

Nessa linha, a Abbott lançou a Global Pandemic Defense Coalition, uma iniciativa em cooperação com universidades e institutos internacionais, para desenvolver rapidamente protótipos de exames e detectar novos patógenos. É uma investida robusta na vigilância genômica, esse monitoramento molecular dos vírus tão decisivo nesta pandemia.

O fato de o projeto ser encabeçado por uma empresa particular é uma boa notícia, pois está cada vez mais claro que uma resposta à altura desses desafios depende de verbas e esforços públicos e privados.

A história das vacinas sustenta isso. Quando a emergência global do coronavírus foi decretada em 2020, dinheiro verteu como água para adiantar estudos que já estavam em andamento contra outras doenças.

Duas novas tecnologias se destacaram: as fórmulas de vetor viral, como a da Astra-Zeneca/Oxford; e as de RNA mensageiro, como a da Pfizer/BioNTech. “Elas mudaram o paradigma de desenvolvimento de imunizantes, pois podem ser feitas e testadas rapidamente”, diz o biólogo Paulo Lee Ho, do Instituto Butantan.

Essas inovações, contudo, não devem ficar restritas a quem pode pagar por elas ou serem vistas como algo a ser resolvido com importações.

Daí a importância de investir em tecnologias nacionais que, mesmo não tão arrojadas, cheguem mais rápido às nossas mãos. “Poderíamos ter tido vacinas antes no Brasil, mas ficamos dependentes de outros países numa competição por insumos para pesquisa e fabricação de imunizantes”, avalia Ho, que trabalha em uma vacina contra a Covid-19 em plataforma semelhante à da dose contra o influenza, o que facilitaria a produção rápida frente a uma emergência.

A falta de recursos num cenário de competição global (e desigual) e a ausência de investimento em ciência continuam sendo um gargalo por aqui.

O desenvolvimento das vacinas para Covid-19 mostrou o que acontece quando a indústria farmacêutica se mobiliza para uma causa de saúde pública urgente. E, na opinião de estudiosos da área, o mesmo gesto deveria ser estendido a pesquisas com imunizantes e remédios voltados a outras doenças infecciosas e negligenciadas.

“Tudo bem que o fabricante lucre, mas esse mercado deveria ser mais bem regulado, porque hoje não se investe no que precisaria ser vendido mais barato a países pobres que enfrentam doenças infecciosas, e eles têm a maior parte da população do planeta”, diz a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Já há quem proponha que, a cada dez produtos desenvolvidos por interesses estratégicos próprios, a indústria devesse entregar uma solução a uma necessidade de saúde pública não atendida. É um raciocínio que se aplica à criação de novos antibióticos para vencer a resistência microbiana (em especial, de bactérias) que ameaça a humanidade.

Vacinas, testes e antivirais vieram rápido, por meio das mãos dos até então escondidos cientistas, sempre ocupados pensando no que vem a seguir. Mas a vida fora dos muros do laboratório é mais complexa.

Vejamos o caso dos imunizantes, que salvaram 20 milhões de vidas em 2021, segundo cálculos do Imperial College London. Eles provaram (de novo!) ser uma das melhores táticas para deter micróbios à solta. Só que, ao mesmo tempo, sofreram um ataque sistemático e infundado, motivado por ideologias e interesses políticos e ausência de campanhas de conscientização.

Isso planta pulgas atrás da orelha da população, que agora demora para aderir às doses de reforço contra Covid.

O déficit na vacinação é mais amplo e não se restringe ao coronavírus. As coberturas registram quedas históricas, fenômeno atribuído a negligência dos cidadãos, calendário extenso, falta de estoque e dificuldades de acesso. Neste ano, a dose contra a gripe só alcançou metade do público-alvo.

Está empacada nos postos, mesmo com os médicos e estudos atestando que ela evita casos graves da doença, internações e mortes. E, pior, o influenza pode ser o ator da Próxima Grande Pandemia. “Uma mutação perigosa nesse vírus faria a Covid parecer um ensaio”, visualiza Brandão.

Influenza ou não, é muito provável que epidemias com alto potencial de expansão venham de vírus respiratórios, os mais insidiosos em matéria de transmissão. “Eles são críticos porque, toda vez que a pessoa infectada respira, lança muitas partículas virais no ar”, afirma o pneumologista Carlos Carvalho, coordenador da UTI Respiratória do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo.

O que continuamos aprendendo com a Covid-19 não pode ser esquecido. Assim como as lições que vieram na esteira do HIV, que nos trouxe antivirais modernos e protocolos de prevenção de contágio.

A necessidade de coordenação, comunicação e fortalecimento da saúde pública é um dos deveres de casa para o Brasil. “Precisamos ter uma rede rapidamente acionável, pois não basta comprar respiradores e abrir mais leitos de UTI respiratória, é preciso ter profissionais prontos para trabalhar nesse contexto, uma capacitação que leva anos”, propõe Carvalho.

Ele sugere um esquema que lembra o de reservistas do serviço militar, com médicos, enfermeiros e companhia treinados para entrar em ação numa eventual guerra. Mas não é isso que o pneumologista enxerga hoje: “O que estamos vendo é um desmonte da resposta ao coronavírus”.

A vacinação em massa e ritmo inédito também traz insights preciosos. “Está mais claro para nós que, apesar da proteção oferecida, muitas vacinas não impedem infecções. Por isso os vírus continuam reemergindo quando têm condições favoráveis”, pontua a imunologista Cristina Bonorino, da Universidade Federal de Ciências de Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Por outro lado, está mais do que provado que pessoas vacinadas não só estão bem menos sujeitas a complicações como transmitem o vírus por menos tempo. “Esses dados podem nos ajudar a aprimorar políticas de isolamento e reforço das campanhas de imunização”, diz a professora.

Acima de tudo, informar-se em tempos de incerteza é um aspecto crucial do enfrentamento às pandemias. E a fonte e a transparência fazem toda a diferença para não sermos enredados por mentiras. No primeiro pico da Covid-19, a Nova Zelândia resistiu ao vírus com políticas estritas de isolamento social, vigilância genômica e engajamento comunitário.

Quando a ciência foi ignorada e cada um falou o que quis em nome de interesses próprios, caso do Brasil e dos EUA, centenas de milhares de pessoas morreram.

Mudar o comportamento do hospedeiro (entre líderes e plebeus) é a variável mais complicada na equação das epidemias. “Em vez de culpabilizações individuais, devemos refletir sobre a falta de pensamento coletivo que nos trouxe até aqui”, diz o antropólogo Jean Segata, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Os vírus nos lembram que somos parte da natureza, e não clientes invencíveis com crédito ilimitado. Nos resta, como eles, evoluir para sobreviver.

Um mundo melhor para os vírus

Por que o momento é tão propício a novas epidemias?

  • Hoje em dia, é muito mais fácil viajar de avião. Em 1990, eram 1 bilhão de viagens ao ano. Em 2018, foram

4 bilhões de voos.

  • Os vírus ficam incubados por um tempo que pode ser superior a 14 dias, dando tempo para que viajem na surdina.
  • Muitas grandes cidades comportam aglomerações e são mal planejadas e desiguais, facilitando a propagação de patógenos.
  • Mudanças climáticas aumentarão em 4 mil vezes a transmissão de vírus entre espécies. E esse dado só considera os mamíferos.
  • Entre 60 e 70% das doenças infecciosas vêm dos animais, sejam de rebanho, silvestres ou domésticos. São as chamadas zoonoses.

Por que os vírus dominam o planeta

  • Os vírus têm a capacidade de evoluir e se adaptar ao ambiente muito rapidamente. Isso acontece por causa da sua alta velocidade de reprodução.
  • A cada replicação, podem ocorrer erros genéticos que conferem ou não vantagens a ele. Se houver benefício, a mutante tende a prosperar no meio.
  • Isso coloca os vírus numa invejável posição de abundância numérica. Numa tosse, o infectado por Covid pode liberar mais de 123 mil partículas virais.
  • Os vírus não são exatamente seres vivos: eles sequestram a engenharia dos organismos mais complexos para fazer suas cópias.

Como acompanhar os animais?

Se a qualquer momento um vírus pode emergir dos milhares de espécies que podem ter contato com o homem, procurar essa ameaça pode ser como encontrar uma agulha no palheiro.

Por isso, a vigilância das zoonoses foca em espécies específicas — como os animais de rebanho, que devem ser constantemente testados e vacinados.

É preciso ainda haver comunicação entre os sistemas de vigilância animal e humano. Se frangos de uma granja, por exemplo, começam a adoecer, os órgãos de saúde devem ser alertados. Nesse sentido, cresce o autoexplicativo conceito de “saúde única”.

Pandemia e agropecuária pioram resistência microbiana

Estudos mostram aumento na incidência de bactérias resistentes a tratamento em pacientes internados com Covid. É um risco que pode se expandir para fora do hospital com o uso indiscriminado de antibióticos em casos leves e moderados de quadros virais, sem infecção bacteriana secundária comprovada.

Outro setor que usa antibióticos exageradamente é a agropecuária, de modo preventivo. Um trabalho da ONG Proteção Animal Mundial encontrou genes de resistência bacteriana que podem colonizar humanos em amostras de água próximas a criações do interior paranaense.

Alguns números

Em 2019, a resistência bacteriana matou mais gente no mundo do que o vírus HIV ou a malária. Foram mais de 1 milhão de mortes.

Em 2050, poderão ser mais de 10 milhões ao ano. Para comparação, em dois anos a Covid matou 6 milhões.

Pelo menos 10 mil vírus são capazes de infectar humanos.

*A venda de produtos por meio destes links pode render algum tipo de remuneração à Editora Abril.

Fontes adicionais: Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias, infectologista da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR); Thiago Moreno L. Souza, biólogo especialista em saúde pública da Fiocruz

13/07/2022 – Jornal Extra Classe

Link: Cotas: 10 anos de obstáculos, ajustes e avanços - Extra Classe

Cotas: 10 anos de obstáculos, ajustes e avanços

Com uma revisão da política prevista para este ano, entidades e educadores defendem que as cotas sejam prorrogadas

Sancionada pela presidente Dilma Rousseff em agosto de 2012 e regulamentada por decreto em outubro do mesmo ano, a Lei de Cotas previu a reserva de ao menos metade das vagas no ensino superior federal para alunos, pretos, pardos e indígenas egressos do ensino público. Apesar de ter triplicado a presença de negros nas universidades entre 2012 e 2019, a medida, no entanto, enfrentou obstáculos na implementação.

Fraudes na autodeclaração dificultaram o acesso à cota por parte de estudantes negros, e as universidades precisaram implementar comissões de heteroidentificação racial para coibi-las. Com uma revisão da política prevista para este ano, entidades e educadores defendem que as cotas sejam prorrogadas, pois faltam dados para uma análise dos impactos da lei ao longo destes 10 anos.

Joana Guimarães não teve nenhum colega negro nos quatro anos em que estudou na UFRGS até se formar em 1991. Na época, não havia assistência estudantil e era difícil conciliar aulas e trabalho. “Arrumar emprego em comércio ou escritório era a perspectiva que tínhamos na vida. A universidade passava longe do horizonte de pessoas como eu”, diz a geóloga, que seguiu na carreira acadêmica. Hoje, Joana é a primeira mulher negra eleita reitora de uma universidade federal. Desde 2019, dirige a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), sediada em Itabuna, cidade próxima à região costeira de Ilhéus.

A reitora viu de perto a revolução promovida pela Lei 12.711, a Lei de Cotas, promulgada em agosto de 2012, a qual previu a reserva de metade das vagas no ensino público federal para alunos egressos de escola pública, com subcotas destinadas a estudantes com baixa renda ou autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. Desde 2016, as cotas também contemplam pessoas com deficiência. “Muitos jovens das periferias ingressaram. As pessoas da comunidade viam e percebiam que a universidade poderia ser para elas também. Antes, era distante da realidade delas”, explica ela, ressaltando que a maior parte da população mais pobre do país é negra.

De 2012 até 2019, a proporção de alunos pretos e pardos no total de estudantes no ensino superior quase triplicou. O número foi de 13% para 38%, conforme levantamento do site Quero Bolsa a partir de dados do Inep. O índice ainda está distante dos 57,3% da proporção de negros, pardos e indígenas na população brasileira (PNAD/IBGE 2019).

Completados 10 anos da Lei de Cotas, a legislação prevê uma reavaliação da política neste ano, que ainda não foi analisada pelo Congresso Nacional. Educadores e entidades, como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), defendem uma prorrogação da lei e apontam que faltam dados para a revisão.

“Não há critérios de avaliação da política de cotas com indicadores uniformes, ou uma métrica do ponto de vista de alcance de metas e objetivos em nível nacional”, afirma Edilson Nabarro, da Coordenadoria de Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas (CAF) da Ufrgs.

Joana concorda e afirma que as cotas ainda estão em fase de implantação. “Uma coisa é a teoria: criar a lei e estabelecer parâmetros. Mas, às vezes, se fazem ajustes e precisamos analisar o que foi ajustado nesses dez anos para poder se pensar em uma revisão”, diz a reitora. Hoje, um projeto que tramita em regime de urgência adia para 2062 a revisão da Lei de Cotas, mas aguarda votação no plenário da Câmara dos Deputados.

Branco sai, preto fica

Entre os ajustes recentes, ela cita que as universidades precisaram combater tentativas de fraude nas subcotas raciais, reservadas apenas para negros, pardos ou indígenas. Como a lei estipula a autodeclaração, isso abriu brecha para candidatos brancos ingressarem por meio dessas cotas. “A pessoa tinha um bisavô negro, então se autodeclarava negra também. Houve essa dificuldade de definir quantas pessoas negras ingressaram ao longo destes dez anos também por causa de fraudes na autodeclaração”, lamenta a reitora da UFSB.

Até 2020, as universidades federais acumularam quase 4 mil denúncias de fraudes em cotas raciais, a maioria nas regiões Nordeste e Sudeste do país. A maior parte das queixas, no entanto, passou a ser registrada somente a partir de 2017. Os dados são do Mapa das Comissões de Heteroidentificação Étnico-Racial das Universidades Federais Brasileiras, coletados pelo professor Sales Santos, da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Das 69 universidades federais consultadas pelo estudo, apenas seis afirmaram não ter recebido denúncias desse tipo.

“As subcotas raciais se destinam a sujeitos de direito bem definidos. Como no Brasil o racismo é de marca e não de origem, o critério de percepção são os traços fenotípicos, e não o genótipo”, explica Nabarro. No caso da UFRGS, em 2017, a universidade apurou uma denúncia de que cerca de 290 alunos brancos teriam ingressado na universidade por meio de cotas raciais. “Uns 95% foram indeferidos porque, indiscutivelmente, não eram negros fenotipicamente. Mas na fase de análise de recursos, houve uma intervenção do MPF (Ministério Público Federal) que apontou supostas fragilidades nos procedimentos da Comissão. Aí nossa investigação parou e não retornou”, diz o coordenador. “Teve descendentes de alemães de olhos azuis que ingressaram em Medicina pelo regime de cotas”, recorda o coordenador. Hoje, alguns desses estudantes já se formaram.

A partir dessas denúncias e para prevenir novos casos, comissões de heteroidentificação étnico-racial permanentes foram criadas pelas instituições. Ou seja, a autodeclaração feita no vestibular passou a ser verificada presencialmente por comissões para coibir fraudes – a chamada heteroidentificação, ou identificação por pares. Hoje, ao menos 50 universidades federais estão com o dispositivo instituído, a maior parte entre 2017 e 2019, época em que as denúncias ganharam tração.

Efeitos positivos das cotas

A médica Lúcia Pellanda, reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), afirma que a validação da autodeclaração étnico-racial dos candidatos aprovados está ajudando a mudar o perfil da universidade, cuja comissão de heteroidentificação data de 2018. “Antes existia uma ‘dificuldade conceitual’. A pessoa se inscrevia se considerando parda, quando, na verdade, não era. Desde que isso ficou parametrizado com a comissão, que haveria essa avaliação, menos gente faz essa tentativa, e o próprio processo vai ficando mais tranquilo”, esclarece Pellanda.

Cotista na UFCSPA e membro da comissão de heteroidentificação étnico-racial da universidade, a estudante de Farmácia Julia Lourenço explica que em países como os Estados Unidos a raça é vista sob o prisma da “gota de sangue”, onde se ter antepassados de outras etnias já torna as pessoas não brancas, o que não se aplica ao Brasil. “Aqui, inclusive pela miscigenação extrema, ser negro é um fator mais fenotípico do que genotípico”, diz a estudante, que afirma que a comissão é formada com diversidade, por alunos, professores e servidores para garantir representatividade na validação da autodeclaração dos candidatos.

Além de fraudes, Julia também aponta que cotistas enfrentam discriminação e empecilhos para permanecer no ensino superior. Muitas pessoas acham que alunos negros ou de baixa renda estudam menos, mas os cotistas precisam se esforçar muito para garantir o acesso e a permanência no ensino superior. “O ensino nas escolas públicas não é exatamente o melhor possível, e a UFCSPA, por ser de excelência, tem um nível de cobrança grande. Então, é uma mudança brusca na forma de ensino e metodologia. É um baque nos primeiros semestres até a pessoa pegar o jeito”, relata.

A estudante conta que muitos de seus colegas brancos chegam à universidade após terem estudado em escolas privadas ou cursinhos pré-vestibular, enquanto alunos negros vêm de instituições onde, muitas vezes, faltam professores, sobretudo em matérias como Matemática e Física. “Meus colegas – de UFCSPA – já tiveram conteúdos que nunca vi, por exemplo”, declara Julia, que será a primeira da família a se formar em uma universidade pública. A estudante celebra o fato e que a Lei de Cotas beneficiou também sua mãe, hoje cotista do ProUni e estudante de Direito em uma faculdade privada.

Cortes no orçamento podem afetar cotistas

Em junho deste ano, o Ministério da Educação cortou 3,2% do orçamento da verba de custeio das universidades federais, o equivalente a R$ 220 milhões. A medida pode afetar a manutenção de políticas que beneficiam estudantes cotistas. “A verba de assistência estudantil, que é carimbada, não costuma ser suficiente para todos. Então, a maioria das universidades usa esse dinheiro do custeio, agora reduzido, para financiar bolsas, RU e outras coisas importantes”, lamenta a médica Lúcia Pellanda, reitora da UFCSPA. Fora o corte, outros 4% do orçamento seguem bloqueados.

Origem das cotas nos movimentos sociais

A Lei de Cotas nasceu da pressão do movimento negro, da sociedade civil organizada e do pioneirismo da Universidade de Brasília (UnB), primeira instituição de ensino superior federal a implementar cotas raciais, ainda em 2004. Nos anos seguintes, outras universidades criaram cotas com base na autonomia universitária até que o Democratas, atual União Brasil, ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra a UnB, sob argumento de que a política seria discriminatória e inconstitucional, mas a corte decidiu pela constitucionalidade da medida ao julgar a ação em 2012, o que abriu caminho para a sanção da Lei. Relatada pelo ministro Ricardo Lewandowski, a decisão também definiu as bases para as comissões de heteroidentificação, ao estabelecer que o julgamento deveria ser feito com base no fenótipo e não na ascendência.

13/07/2022 – CNN

Link: Entenda por que vacinas da Covid-19 protegem mesmo diante das mutações do vírus | CNN Brasil

Entenda por que vacinas da Covid-19 protegem mesmo diante das mutações do vírus

Estudos indicam que dose de reforço aumenta significativamente o nível de proteção contra a infecção que tende a diminuir após seis meses

Vírus são microrganismos com estruturas relativamente simples, compostos basicamente de proteínas e de informações genéticas. Essa característica faz com que eles tenham uma alta capacidade de mutação.

Com o coronavírus não é diferente. A circulação extensiva do vírus causador da Covid-19 contribui para o surgimento de novas variantes. Desde a descoberta da Ômicron, em novembro de 2021, o coronavírus continuou a evoluir, dando origem a muitas linhagens descendentes e também recombinantes.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que realiza o monitoramento contínuo das diferentes linhagens, a diversificação genética da Ômicron indica uma pressão do vírus pela adaptação aos hospedeiros humanos.

A maior parte das mutações virais está localizada na proteína Spike, utilizada pelo vírus para invadir as células humanas. Algumas dessas mutações podem tornar o vírus menos suscetível à resposta imunológica esperada pelas vacinas.

As vacinas contra a Covid-19 em uso no mundo foram desenvolvidas a partir das linhagens do vírus que circulavam no início da pandemia e que não apresentavam a mesma quantidade de mutações das cepas circulantes no momento.

No entanto, estudos em andamento indicam que, mesmo diante das mutações, os imunizantes permanecem eficazes na proteção contra quadros graves, hospitalizações e morte pela doença. As análises indicam, ainda, que a dose de reforço aumenta significativamente o nível de proteção contra a infecção que tende a diminuir após seis meses.

O que contribui para a manutenção da proteção

A imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), explica alguns dos fatores que contribuem para a manutenção da eficácia das vacinas em uso.

Segundo a especialista, a efetividade das vacinas está relacionada à produção de anticorpos neutralizantes específicos contra o coronavírus e à indução de outros mecanismos relacionados à defesa do organismo, como a ativação dos linfócitos, ou células T.

A chamada resposta celular gerada pelos imunizantes envolve células de memória do sistema imunológico que permanecem no organismo. Assim, quando o indivíduo entra em contato com o coronavírus por meio de uma infecção natural, elas ativam a produção de anticorpos que respondem contra a infecção, evitando principalmente o agravamento da doença.

“Existem dois tipos de proteção imunológica aos vírus que geram memória. Um desses são os anticorpos, o outro são os linfócitos T, que ficam nos tecidos, nos pulmões e demais órgãos, protegendo da doença. Essa imunidade não foi afetada pelas variantes em nada pelo que conseguimos medir”, afirma Cristina.

Como grande parte das mutações são encontradas na proteína Spike, os principais impactos refletem principalmente na capacidade do vírus de invadir as células humanas, e não no agravamento da doença.

“A maior parte das mutações está na parte da proteína Spike que chamamos de RBD, que é a parte que liga no receptor. As mutações da Ômicron são principalmente ali. Se você olha, por exemplo, os linfócitos T, as mutações não afetam as áreas que eles reconhecem. Por que eles reconhecem pedaços bem pequenos”, explica a imunologista.

Pesquisadores do Imperial College, de Londres, realizaram um amplo estudo que vai ao encontro da importância da vacinação. Embora o organismo humano seja capaz de produzir defesas contra o coronavírus durante a infecção natural, o nível de proteção pode não ser tão elevado dependendo da variante envolvida, segundo a pesquisa.

No estudo britânico, que contou com a participação de profissionais de saúde, os pesquisadores investigaram a imunidade das células T e B contra a Ômicron em vacinados com diferentes históricos de infecção pelo SARS-CoV-2.

Os resultados do estudo, publicado na revista Science, apontaram que a infecção pela Ômicron não foi capaz de reforçar os mecanismos de ação do sistema imunológico.

O que dizem os estudos de efetividade

Diferentemente dos testes de eficácia, que dizem respeito aos estudos conduzidos em ambientes controlados, como aqueles realizados durante o desenvolvimento das vacinas, os dados de efetividade refletem os resultados da vacinação na prática em grandes populações.

Pelo menos 33 estudos de 14 países (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Israel, Catar, África do Sul, Reino Unido, Estados Unidos e Zâmbia) avaliaram amplamente a proteção de seis vacinas contra a Covid-19 diante da infecção pela variante Ômicron.

Entre as pesquisas, 12 estudos contribuíram com estimativas de efetividade apenas do esquema primário de vacinação, quatro apresentaram dados apenas da primeira dose de reforço e 17 contribuíram para ambas.

Os resultados desses estudos mostram redução da efetividade das vacinas contra a variante Ômicron, com apenas a série primária, para todos os desfechos (doença grave, doença sintomática e infecção) em comparação ao que foi observado para as outras quatro variantes de preocupação do coronavírus: Alfa, Beta, Gama e Delta.

No entanto, as estimativas de efetividade contra a Ômicron permanecem mais altas para doenças graves do que os outros quadros clínicos na maioria dos estudos. As análises apontam ainda que a primeira dose de reforço melhora significativamente a efetividade das vacinas para todos os desfechos clínicos.

Os resultados dos estudos indicam que, após a primeira dose de reforço, a efetividade das vacinas diminui mais em relação a doença sintomática e infecção do que para doença grave ao longo do tempo. No entanto, ainda não estão disponíveis estudos que avaliem a efetividade da vacinação de reforço em um prazo maior do que seis meses.

Para doença grave, a efetividade do esquema de vacinação primário mostrou pouco declínio ao longo de seis meses.

O índice foi maior ou igual a 70% durante os três primeiros meses após a vacinação para 7 das 13 (54%) estimativas de efetividade para as vacinas de RNA mensageiro da Pfizer e da Moderna.

Dos dois estudos de vacinas de vetor viral disponíveis, ambas tiveram efetividade abaixo de 70%: um relatou efetividade abaixo de 70% para a AstraZeneca e o outro indicou efetividade abaixo de 50% para a Janssen. Em relação às vacinas de vírus inativado, estimativas apontam que a Coronavac apresentou efetividade maior ou igual a 50%.

Nova geração de vacinas

Para os especialistas consultados pela CNN, o desenvolvimento de uma nova geração de vacinas contra a Covid-19 é um movimento esperado da indústria farmacêutica em busca de aprimoramento – o que não significa, necessariamente, que os imunizantes em uso tenham perdido a capacidade de proteção.

Considerando a evolução viral ao longo do tempo, a atualização das vacinas permitirá o desenvolvimento de formulações com proteção mais abrangente, capazes de reduzir de maneira mais robusta até mesmo a infecção, e também mais prolongada, como acontece com outros tipos de imunizantes.

“A imunidade que as variantes afetaram foi a capacidade do anticorpo evitar que o vírus entre na célula. Então, mesmo que ele entre, você ainda vai estar protegido. Vacinas atualizadas vão diminuir a chance dele entrar”, afirma Cristina.

A Pfizer e a Moderna, farmacêuticas que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro contra a Covid-19, apresentaram resultados de candidatas a vacinas específicas para a variante Ômicron.

Em junho, a Pfizer divulgou dados promissores da versão adaptada de duas vacinas, uma monovalente e outra bivalente. Enquanto uma é uma combinação da vacina da Pfizer, a outra é direcionada à proteína Spike da linhagem BA.1 da Ômicron.

De acordo com a Pfizer, os dados do estudo de fases 2 e 3 apontaram que uma dose de reforço de ambas as vacinas candidatas adaptadas provocou uma resposta imune substancialmente maior contra a BA.1 da Ômicron BA.1 em comparação com a vacina atual. A resposta imune robusta foi observada em dois níveis de dosagem com 30 e 60 microgramas.

No dia 8 de julho, a Moderna apresentou novos dados clínicos da vacina de RNA mensageiro voltada para a variante Ômicron. Os resultados mostram respostas de anticorpos expressivas em comparação com a atual dose de reforço. A dose de reforço de 50 microgramas apresentou perfil de segurança no estudo que contou com a participação de 437 voluntários.

Dose de reforço

A primeira dose de reforço melhorou a proteção contra a doença grave em todos os estudos. A efetividade da vacina foi igual ou superior a 70% em 94% das estimativas que avaliaram a proteção entre 14 dias e três meses após o recebimento do reforço.

De três a seis meses após o reforço com as vacinas de RNA mensageiro, o índice foi igual ou superior a 70% para 21 de 26 estimativas.

Considerando apenas o esquema inicial de vacinação, a efetividade dos imunizantes contra infecção sintomática nos primeiros três meses foi menor em comparação com a doença grave. Além disso, a efetividade diminuiu mais significativamente ao longo do tempo.

“As vacinas diminuem a proteção com o passar do tempo e de acordo com a variante que está circulando, mas quando nós aplicamos os reforços, tanto o primeiro quanto o segundo reforço para quem já está indicado, ele recompõe essa proteção. Para a Ômicron, essa dose de reforço é fundamental”, afirma Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Os estudos apontam que a dose de reforço de vacinas de RNA mensageiro após a conclusão de uma série primária de uma vacina do mesmo tipo, da AstraZeneca ou da Coronavac, melhorou a proteção contra doença sintomática.

No entanto, a proteção da primeira dose de reforço diminuiu rapidamente ao longo do tempo: apenas três das 13 estimativas disponíveis em três a seis meses após o recebimento de uma dose de reforço de tiveram efetividade maior ou igual a 50% e nenhuma foi igual ou superior a 70%.

“Com a vacinação completa, que considera quando as pessoas fazem inclusive os reforços, a possibilidade de ter doença grave, de hospitalização e de morte é muito menor comparando com aqueles que fizeram só a vacinação básica de duas doses ou com aqueles que não se vacinaram”, afirma Cunha.

08/07/2022 – UFRGS Notícias

Link: Órgãos federais formalizam acordo de cooperação técnica para atenção à saúde do servidor — UFRGS | Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Órgãos federais formalizam acordo de cooperação técnica para atenção à saúde do servidor

Cerimônia de assinatura ocorreu no Salão Nobre da Reitoria da UFRGS

Foi assinado na manhã desta sexta-feira, 8 de julho, o Acordo de Cooperação Técnica do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Público Federal (SIASS) entre a UFRGS, a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Rio Grande do Sul, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), a Superintendência Federal de Agricultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e a Superintendência Regional de Administração no Estado do Rio Grande do Sul do Ministério da Economia. O acordo renova e amplia o atendimento da Unidade SIASS na UFRGS, que foi a primeira a ser instalada no estado e a segunda no Brasil, em 2010. A partir de agora, os servidores ativos e pensionistas da Superintendência do Ministério da Economia no RS passam a ser atendidos pela Unidade SIASS/UFRGS.

A superintendente de Gestão de Pessoas da UFRGS, Marília Borges Hackmann, destacou que a Unidade SIASS/UFRGS atende cerca de 80 mil pessoas, abrangendo alunos, servidores ativos e aposentados e pensionistas da Universidade e dos órgãos que participam do convênio nas questões relativas à Política de Atenção à Saúde e Segurança do Trabalho do Servidor Público Federal (PASS). O acordo possibilita a ação conjunta dos envolvidos e o uso racional dos recursos humanos, técnicos e orçamentários, potencializando os resultados das ações e serviços de saúde voltados aos servidores públicos federais. Conforme Marília Hackmann, a ampliação do acordo reforça o protagonismo da UFRGS na implantação da PASS.

O reitor Carlos André Bulhões Mendes agradeceu o trabalho dos integrantes da Comissão Interinstitucional e dos demais servidores envolvidos na formulação do acordo. Ele ressaltou a importância das parcerias entre instituições para a obtenção de bons resultados, citando exemplos de ações empreendidas pela UFRGS e parceiros no enfrentamento da pandemia de covid-19.

Participaram da mesa que celebrou a parceria: a pró-reitora de Planejamento de UFCSPA Alessandra Dahmer – representando a reitora Lucia Pellanda –, o reitor do IFRS Julio Heck, a superintendente federal de Agricultura Helena Pan Rugeri, o superintendente substituto estadual do IPHAN Airton Moraes e o superintendente regional de Administração do Ministério da Economia Richardi Fonseca, que também integrou a comissão interinstitucional responsável pelo acordo.

06/07/2022 – GZH

Link: Antibióticos e antialérgicos: os remédios que mais estão em falta nas farmácias do RS | GZH (clicrbs.com.br)

Antibióticos e antialérgicos: os remédios que mais estão em falta nas farmácias do RS

Hospitais registram escassez de soro fisiológico, usado para pacientes internados, mostra levantamento do Conselho Regional de Farmácia

Antibióticos, antialérgicos, analgésicos, anti-inflamatórios e xaropes para tosse – remédios para covid-19 e doenças de inverno – são as medicações mais em falta em drogarias, hospitais e farmácias do Sistema Único de Saúde (SUS) do Rio Grande do Sul, mostra levantamento do Conselho Regional de Farmácia gaúcho (CRF-RS).

A pesquisa, feita de forma online ao longo de três semanas com farmacêuticos que atuam na iniciativa privada e no setor público, questionou se faltavam remédios nas farmácias onde os profissionais atuam – se sim, quais as medicações.

O desabastecimento é maior em drogas usadas contra covid-19 e doenças respiratórias do inverno, mas profissionais ainda relataram falta de soro fisiológico, utilizado como “veículo” para aplicação de remédios em pacientes hospitalizados.

TRATAMENTO EM RISCO NO RS

Queda de máscaras e inverno, aliados a lockdown na China e guerra entre Rússia e Ucrânia, resultaram em baixa oferta e alta demanda de remédios para doenças respiratórias no RS

Os remédios que mais estão em falta nas farmácias do RS

Amoxicilina (antibiótico)

Cloridrato de ambroxol (xarope expectorante)

Azitromicina (antibiótico)

Cloridrato de bromexina (xarope expectorante)

Dexclorfeniramina (antialérgico)

Prednisolona (anti-inflamatório)

Acetilcisteína (xarope expectorante)

Carbocisteína (xarope expectorante)

Loratadina (anti-alérgico)

As classes de remédio mais em falta nas farmácias gaúchas

Antibióticos

Antialérgicos

Analgésicos

Anti-inflamatórios

Soro fisiológico

Anestésico

— Nas drogarias e na saúde pública, faltam antibióticos, anti-inflamatórios, anti-histamínicos (antialérgicos) e analgésicos. A nível hospitalar, farmacêuticos relataram falta de anestésicos e de soro fisiológico. Isso ocorre pela falta de matéria-prima ou da embalagem para o envase da substância — afirma a farmacêutica e presidente do CRF-RS, Letícia Raupp.

A entidade destaca a falta de antibióticos para crianças, situação presente há meses e vivenciada pela empresária Betina Maier, de 35 anos, moradora de Novo Hamburgo. Em maio, ela levou a filha Morena, de nove meses, ao hospital, onde a menina foi diagnosticada com bronquiolite, pneumonia e infecção urinária. O médico comunicou: a criança só teria alta se a mãe comprasse, na farmácia, um antibiótico para seguir o tratamento em casa – o remédio, entretanto, estava em falta.

— Ele me disse: “Não posso correr o risco de dar alta, ela ir pra casa e não ter a medicação”. Fui atrás de várias farmácias, mas nenhuma em Novo Hamburgo tinha. Conseguimos um frasco em Sapiranga — conta a empresária, que ainda relata dificuldades na busca por medicações:

— Ainda hoje faltam remédios para crianças. Duas semanas atrás, minha filha teve outro problema respiratório, a pediatra disse para entrar com nebulização e Aerolin em gotas (remédio para asma e bronquite), mas só achamos em Campo Bom — acrescenta.

A rede pública também sofre de escassez. Para além de um crescimento de 16% no número de pessoas em busca de remédios em farmácias do SUS no mês passado frente a junho de 2021, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Porto Alegre relata dificuldade para comprar os antibióticos amoxicilina e gentamicina, o remédio fenoterol (utilizado para bronquite, pneumonia e asma) e estrógenos. “Apesar dessas situações, todos os esforços estão sendo realizados para que não gerem o desabastecimento nos medicamentos disponíveis à população”, diz a prefeitura.

O Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), que representa fabricantes de remédios, afirma que associados relataram “expressivo e atípico aumento de demanda por determinados antibióticos no primeiro trimestre e isso desorganizou a cadeia de fornecimento ao varejo”. Todavia, a entidade alega que a oferta é regular na maioria das fabricantes e que apenas algumas empresas relataram problemas “pontuais” de produção de antibióticos.

“Os dados disponíveis confirmam a oferta regular e até acima do normal do antibiótico amoxicilina e do analgésico dipirona por parte da indústria”, diz o Sindusfarma, ao contrário do que relataram farmacêuticos sobre a falta desses dois remédios, especificamente. Por fim, a entidade afirma que indústrias estão readequando a produção para atender o mercado.

Hospitais registram falta de soro fisiológico

O Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa), que representa instituições como os Hospitais Mãe de Deus e Moinhos de Vento, informou por meio de nota que há cerca de 30 itens “com abastecimento prejudicado, incluindo medicamentos e insumos para realização de procedimentos”.

A maior falta em hospitais é de soro fisiológico e contrastes para exames. “A indisponibilidade tem sido verificada de forma mais abrangente no varejo. Os hospitais vêm monitorando diariamente os estoques para bem atender aos pacientes”, informa a entidade que representa hospitais da capital gaúcha.

A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre informou, também por por meio de nota, que tem "acompanhado com apreensão a escassez de medicamentos no mercado brasileiro, bem como aumentos significativos de preços”. Para minimizar o problema, “a instituição tem fortalecido as parcerias comerciais com fornecedores e, em alguns casos pontuais, elevando os estoques de segurança”.

Farmácias de manipulação têm sido acionadas em alguns casos. Em outros, busca-se o médico para substituir o remédio. “Porém, apesar da atual escassez, não temos sido impactados significativamente com rupturas de abastecimento que prejudiquem a assistência de nossos pacientes”, diz a Santa Casa.

O Hospital Moinhos de Vento afirmou que monitora o desabastecimento de medicamentos no varejo, especialmente de soro fisiológico, mas que a instituição segue sendo atendida pelos fornecedores e não registra falta de insumos. “O hospital acompanha diariamente a situação e busca alternativas para eventuais problemas de abastecimento”, diz o Moinhos de Vento.

O Hospital Mãe de Deus informou, também por nota, que está a par de que o mercado enfrenta dificuldades, mas que “tem todos os medicamentos garantidos em estoque, em razão de contrato estabelecido com os fabricantes”.

Motivo

As raízes do problema são multifatoriais: envolvem menor oferta de remédios e de embalagens como resultado de um xadrez geopolítico europeu-asiático e pela maior demanda impulsionada pelo inverno rigoroso e pela queda do uso de máscaras em ambientes fechados, o que favorece a transmissão de vírus respiratórios, dizem especialistas.

O Brasil depende de importação de matéria-prima para fabricar remédios - mais de 90% dos ingredientes vêm da China e da Índia. Como os lockdowns impostos pelo governo chinês na política de “covid zero” pararam cidades de grandes indústrias farmacêuticas, caiu a oferta de matéria-prima global e também de embalagens de vidro e plástico para envasar remédios e soro fisiológico.

— Em 2022, com colégios em funcionamento, retomada de vida quase normal de adultos e o querido inverno gaúcho, a demanda por esses remédios aumenta. Mas, agora, há a infeliz coincidência de o mercado chinês se fechar, o que faz o desabastecimento chegar ao ápice — diz Cabral Pavei, professor de Farmácia na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Ainda no cenário internacional, a guerra entre Rússia e Ucrânia afeta a cadeia logística mundial de portos e aeroportos, acrescenta Diego Gnatta, professor de Farmácia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

— A guerra afeta o trânsito de navios e contêineres, o que impacta não só a indústria de automóveis, mas também a industria farmacêutica. Os insumos não necessariamente são produzidos na Ucrânia ou na Rússia, mas isso afeta a logística — diz o pesquisador.

Uma saída para o problema é investir na produção nacional de medicamentos em laboratórios públicos e universidades, afirmam pesquisadores. Pavei, da UFCSPA, destaca que, em 2018, o governo gaúcho fechou o Laboratório Farmacêutico do Rio Grande do Sul.

— Como o SUS é um dos que mais utiliza esses medicamentos, agora se inicia nova discussão com o Ministério da Saúde para criar plantas industriais e laboratórios públicos de produção de ingrediente farmacêutico ativo — diz o professor.

A presidente do Conselho de Farmácia do Rio Grande do Sul pontua que a atual dificuldade logística deixa o país vulnerável, o que exige políticas públicas para evitar nova escassez.

— Alguns medicamentos a indústria farmacêutica têm menos interesse produzir, em função do baixo custo de venda, como soro fisiológico. Isso seria solucionado se laboratórios oficiais voltassem a produzir medicamentos de baixos custo. Hoje, como temos dificuldade logística, ficamos sem matéria-prima para produzir medicação na indústria brasileira. Precisamos de uma política pública para desenvolver matérias-primas — diz a presidente do CRF-RS.

Por que amoxicilina é a que mais falta?

Amoxicilina, o remédio mais em falta no Rio Grande do Sul, é uma das primeiras opções escolhidas por médicos para tratar de infecções bacterianas comuns, como faringite, sinusite, otite em crianças e pneumonia leve, explica Alexandre Zavascki, médico infectologista no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

— Uma prática bastante comum entre médicos é ter uma suspeita de quadro viral e já dar antibiótico, descnecessariamente. Isso pode estar agravando (a situação). Se ficou na dúvida de ter uma infecção bacteriana, o médico acaba dando — critica.

06/07/2022 – GZH

Link: "Mais Vozes": especialistas da área da saúde discutem a baixa procura pelas doses de reforço no RS | GZH (clicrbs.com.br)

"Mais Vozes": especialistas da área da saúde discutem a baixa procura pelas doses de reforço no RS

Uma reportagem de GZH divulgou, na terça-feira, que 2,75 milhões de gaúchos estavam com a terceira dose atrasada, o que representa 24% da população do Estado

Com os menores índices de internação e de mortes por conta da covid-19, a imunização vem se mostrado eficiente na batalha contra o coronavírus. Apesar disso, ainda é grande o número de gaúchos com esquema vacinal incompleto. Uma reportagem de GZH divulgou, na terça-feira (5), que 2,75 milhões de gaúchos estavam com a terceira dose atrasada, o que representa 24% da população do Estado, de 11,4 milhões. Outros 2,38 milhões de indivíduos já poderiam ter recebido a quarta aplicação, mas não o fizeram.

O quadro Mais Vozes, no programa Gaúcha + desta quarta-feira (6), questionou especialistas da área da saúde o porquê da baixa procura pelas doses reforço no Estado. Participaram do quadro a reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e professora de Epidemiologia, Lucia Pellanda, o médico infectologista do Hospital Conceição André Luiz Machado, o virologista e professor da Feevale, Fernando Spilki, o infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alexandre Zavascki, e o epidemiologista Paulo Petry.

Para a reitora Lucia Pellanda, as vacinas são "vítimas do próprio sucesso". A professora argumenta que, conforme a imunização mostra sua eficácia, as doenças, em sua maior gravidade, desaparecem e, justamente por conta disso, entende-se que não é mais necessário vacinar-se. Ela relembra, porém, que manter o esquema vacinal completo é essencial para impedir novas variantes do vírus.

Pelo mesmo ponto de vista, o infectologista do Hospital Conceição André Luiz Machado entende que a população começou a relaxar na busca pelo reforço quando percebeu a redução nos casos graves e óbitos. Ele alerta que, com o passar do tempo, a proteção conferida pela vacina tende a se perder, e só com a vacinação completa os baixos índices se mantêm.

Fernando Spilki, virologista e professor da Feevale, também cita a falsa sensação de segurança com a menor preocupação das pessoas com a doença. Ele ainda indica como possíveis fatores pela queda de procura da vacinação a desinformação, pela falta de conhecimento da necessidade de fazer novas doses, e informações inadequadas sobre os imunizantes e os efeitos colaterais, que por vezes podem afastar as pessoas do retorno aos postos de saúde.

O infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da UFRGS, Alexandre Zavascki, acredita que os índices estejam relacionados com a ausência de campanhas de comunicação, por parte de agentes públicos, que orientem a vacinação. Ele também cita como fator para isso a desinformação sobre os imunizantes que, de acordo com ele, é promovida inclusive por médicos.

Nesse sentido, o epidemiologista Paulo Petry também destaca as notícias falsas a respeito das vacinas contra a covid-19. De acordo com ele, politizou-se uma questão que diz respeito à saúde, o que espalhou uma cultura em que muitas pessoas não se vacinaram e outras que não completaram o esquema vacinal.

04/07/2022 – UFRGS Notícias

Link: Pesquisadores gaúchos anunciam criação da Rede BioFood — UFRGS | Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Pesquisadores gaúchos anunciam criação da Rede BioFood

Iniciativa foi contemplada em edital da Fapergs e prevê a instalação de um centro regional de pesquisa permanente no ICTA

Com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), através do edital do Programa de Redes Inovadoras de Tecnologias Estratégicas do Rio Grande do Sul (RITEs-RS), foi criada a Rede BioFood.

O consórcio envolve universidades públicas e privadas e empresas, nomeadamente: UFRGS, UFFS, UFSM, Uergs, Unisinos, Univates, UFCSPA, UCS, IFRS, Furg, Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) e Quatro G Biotecnologia. As equipes já iniciaram os trabalhos em seus laboratórios, em cumprimento ao cronograma sugerido na proposta apoiada pela Fapergs.

Sob coordenação do professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da UFRGS Marco Antônio Záchia Ayub, o projeto visa à criação de um centro regional de pesquisa permanente para o desenvolvimento da ciência e tecnologia de bioprocessos e biotecnologia aplicados à industrialização de alimentos de qualidade e inovadores, em um sistema de economia circular, com integração completa de ciclos produtivos.

Esse objetivo será buscado por meio do avanço permanente de tecnologias de bioprocessos para o aproveitamento de todos os resíduos e subprodutos da indústria agroalimentar gaúcha, visando à conversão desses materiais em produtos de alto valor agregado voltados à criação de novos alimentos, além da melhoria da qualidade nutricional dos alimentos já existentes.

De acordo com Ayub, o centro regional terá sede no Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos (ICTA) da UFRGS, ao qual está vinculada a maioria dos pesquisadores que colaboram com a iniciativa. Entretanto, as pesquisas serão conduzidas nos laboratórios de cada instituição que compõe a rede, podendo contar com a estrutura de todas as demais participantes, conforme suas necessidades.

04/07/2022 – Diário Gaúcho

Link: Novas ondas e cepas mais transmissíveis: especialistas refletem como será o próximo semestre da covid-19 - Notícias (clicrbs.com.br)

Novas ondas e cepas mais transmissíveis: especialistas refletem como será o próximo semestre da covid-19

Profissionais da saúde analisam possíveis cenários; estudo indica picos da doença até 2024

Os primeiros seis meses de 2022 consolidaram um cenário esperado há dois anos: a menor letalidade da covid-19. A vacinação avançou: em janeiro, 70% dos brasileiros tomaram duas doses e, a despeito de duas ondas de Ômicron, o número de hospitalizações e mortes foi menor do que em ondas anteriores.

Ainda assim, não foi um semestre leve: no Brasil, a covid-19 matou 52.360 pessoas – 3.583 delas, no Rio Grande do Sul. As piores fases foram em fevereiro e junho, meses das duas ondas de Ômicron – uma quando a variante avançou pela primeira vez, outra após a desobrigação do uso de máscaras e a chegada de novas subvariantes.

Grandes mudanças ocorreram neste ano. Houve liberação do uso de máscaras em ambientes abertos e fechados, fim do estado de emergência em saúde pública, encerramento oficial de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com coronavírus, indicação de quarta dose para adultos e vacinação em crianças.

Da versão “original” da Ômicron, a BA.1, chegamos à BA.4 e à BA.5, cepas que driblam ainda mais nosso sistema imunológico e se tornam mais transmissíveis – o que permite que pessoas infectadas há 40 dias já se reinfectem. As vacinas mantêm proteção e evitam casos graves.

Entre janeiro e março, na primeira onda, a Ômicron provocou um recorde de infecções – no Rio Grande do Sul, mais de 17 mil novos casos por dia e um pico de quase 60 mortes diárias, segundo dados do Ministério da Saúde.

Hoje, a segunda onda de Ômicron é mais branda, mas ainda traz impactos: entre 15 e 20 gaúchos morrem por dia de coronavírus, quatro vezes mais do que o registrado em maio. Cerca de 3,5 mil casos são registrados oficialmente por dia em solo gaúcho, mas o número é largamente subnotificado devido a autotestes e muitos casos leves.

O PRIMEIRO SEMESTRE DE 2022 DA COVID-19 NO RS

Estado enfrenta nova onda e atingiu, em junho, quatro vezes mais mortes diárias do que em maio

[Veja o gráfico no link acima]

— É exatamente o que previmos em 2020: quando 70% da população estivesse vacinada, a emergência acabaria e controlaríamos a covid. É obvio que o pior parece já ter passado, mas a pandemia não acabou. Há pessoas que se infectam várias vezes por acharem que estão vacinadas e não precisa fazer mais nada, mas quem faz isso tem mais risco de doença grave ou de ter sequela — comenta a imunologista Cristina Bonorino, consultora do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Espera-se que eventuais novas variantes não mudem completamente o cenário – seja porque grande parte das pessoas já está vacinada, seja porque a tendência é de que mutações moldem o vírus para ser mais transmissível, mas menos letal, como vem acontecendo.

Ajudaria no controle da epidemia se mais pessoas completassem o esquema vacinal. Até o momento, 81% dos gaúchos tomaram a segunda dose e 55,4% tomaram a terceira, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES). A nível nacional, são 79% brasileiros com duas doses e 50% com três. A meta do Ministério da Saúde é aplicar três doses em 90% das pessoas.

O perfil dos doentes é bastante diferente hoje: quem adoece gravemente apresenta a saúde fragilizada, como idosos, imunossuprimidos ou indivíduos com doenças graves, acrescenta Alexandre Zavascki, médico infectologista no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

— Nós, que vimos muitas pessoas jovens e sem doença morrer, vemos que isso não tem acontecido mais. É um avanço. Mas todos convivemos com pessoas idosas e um dia também seremos frágeis, então podemos aprimorar o convívio com a covid, sem negar que a doença existe, mas tomando algumas precauções, o que inclui uso de máscaras e questões de engenharia, como melhorar a ventilação de locais fechados — diz Zavascki.

A ciência ainda não sabe precisar quanto tempo dura a proteção gerada pelas vacinas, mas cientistas estimam que comece a reduzir cinco meses após a injeção. Sabe-se que é possível se reinfectar 40 dias após pegar covid. E estudos mostram que a quarta dose parece trazer menos impacto do que a terceira.

O surgimento de vacinas atualizadas pode trazer avanço no controle do vírus - estima-se que será necessário vacinar-se uma ou duas vezes por ano, neste momento. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estuda uma vacina em spray nasal, o que teoricamente teria maior potencial de bloqueio da transmissão do vírus do que as vacinas atuais. Como resultado, menos pessoas pegariam o Sars-Cov-2 no futuro.

Até 2024

Para os próximos anos, o médico Alexandre Vargas Schwarzbold, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cita estudo de imunologistas e epidemiologistas da Universidade de Harvard, publicado na revista Science, segundo o qual ondas da covid-19 devem ocorrer até 2024.

Por essa perspectiva, o “novo normal” de hoje perduraria por mais dois anos, quando o coronavírus finalmente se assemelharia ao comportamento de outros vírus respiratórios e deixaria de causar tantas mortes quanto hoje.

— As primeiras ondas foram altas, de picos maiores. Até 2024, devemos viver com pequenas ondas, mais baixas, em função da maior imunização, mas perdurando porque há muitas regiões do mundo não completamente imunes. Para o ano que vem, provavelmente a questão sazonal do frio vai ser mais determinante para uma piora porque teremos mais pessoas vacinadas — reflete Schwarzbold.

01/07/2022 – GZH

Link: Estudantes relatam sequência de assaltos perto da UFCSPA, em Porto Alegre | GZH (clicrbs.com.br)

Estudantes relatam sequência de assaltos perto da UFCSPA, em Porto Alegre

Insegurança assusta alunos desde o retorno das atividades presenciais, em abril; Polícia Civil confirma aumento nas ocorrências na região

Entre a terça-feira (28) e a quinta-feira (30), ao menos um estudante foi assaltado por dia na região entre a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), o campus central da Universidade Federal do RS (UFRGS) e o prédio do Instituto de Educação General Flores da Cunha, no bairro Farroupilha, em Porto Alegre. Seja em dupla ou caminhando sozinhas, as vítimas relatam ter sido abordadas por homens que anunciam assalto, fazem ameaças e exigem objetos pessoais.

A 17ª Delegacia de Polícia Civil, que cobre a região, confirma que o entorno do Parque Farroupilha (Redenção) tem recorrência de crimes do tipo, e informa que trabalha para identificar os autores das abordagens. Apesar de não indicar números, o delegado Thiago Bennemann confirma que houve aumento nas ocorrências de assalto a pedestres no local nas últimas semanas.

Bennemann diz que assumiu a titularidade da DP em maio e que, desde então, observa que essa é a ocorrência mais recorrente na área. Segundo ele, há um eixo de pequenos roubos — de celulares e quantias em dinheiro — e compra de drogas entre o bairro Farroupilha e a Rua Voluntários da Pátria, do outro lado do Túnel da Conceição, onde as forças de segurança miram seus esforços em mapear e coibir a atuação dos criminosos.

— Em junho, prendemos 40 traficantes na região do Centro, tentando acabar com essa comercialização de drogas, além de realizar operações conjuntas na região da Redenção. Frequentemente encontramos suspeitos portando simulacro ou arma branca (faca), mas a identificação deles por parte das vítimas é dificultada. Se trata, muitas vezes, de pessoas que moram na rua e não ficam no mesmo lugar por mais de uma semana — detalha Bennemann.

Uma das vítimas recentes, que preferiu não se identificar, afirma que atravessava a Avenida Osvaldo Aranha com uma colega, por volta das 22h20min de terça-feira. A dupla foi abordada por dois homens, que levaram celulares e a mochila de uma delas.

— Um deles olhou para mim e disse: "Eu vou acabar com a tua vida, me passa o celular". Eu fui pegar o aparelho na mochila e nisso ele pegou ela também. Levou tudo, celular, caderno, livro, carteira, documentos, chave de casa, cartão de banco, vale-refeição. Preciso comprar ou fazer tudo de novo. As pessoas perguntam: "Ele não fez nada contigo?", mas, na verdade, fez. O psicológico afeta muito, apesar de estar bem fisicamente. Desde então, tento me manter ocupada mas fico pensando nisso sempre. Passa alguém do lado na rua e tenho calafrios. É uma sensação de invasão — conta a estudante de Psicologia, de 20 anos.

Segundo ela, os relatos de assaltos na região ficaram mais recorrentes entre os estudantes após o retorno das aulas presenciais na UFCSPA, no final de abril. A colega que foi assaltada com ela na terça também relata enfrentar dificuldades após o episódio.

— Depois que eles foram embora, eu fiquei chorando o tempo todo, até o ônibus chegar, e isso demorou. É muito frustrante ter medo de ir para a faculdade, de ir estudar, e é algo que todos ali estamos sentindo. Estou vendo outra alternativa para não precisar mais pegar ônibus. Além do assalto, ainda recebi uma mensagem de que eles conseguiram desbloquear meu celular, tendo acesso às minhas informações. Aí é mais um transtorno para resolver — complementa, também pedindo anonimato.

Outro estudante relata que foi assaltado na quinta-feira, perto da Redenção. Um homem de capuz o abordou fazendo ameaças e dizendo para que ficasse em silêncio ou seria baleado. Na ação, foram levados o aparelho celular e dinheiro da vítima.

Nas três ocorrências, ainda não houve captura de suspeitos pela 17ª DP, segundo o delegado Bennemann. A Polícia Civil recorre às imagens do Departamento de Comando e Controle Integrado (DCCI) para monitorar possíveis autores.

Brigada Militar reforça policiamento

De acordo com o tenente-coronel Ivens Giuliano, comandante do 9º BPM, que atende o local, as equipes intensificaram o policiamento na região, inclusive com operações integradas com a Polícia Civil. O patrulhamento é feito com viaturas, que circulam pela área e fazem paradas em ponto estratégicos. Conforme Giuliano, o policiamento no local é constante e as equipes também realizam abordagens preventivas.

Conforme o comandante, um homem foi preso no domingo (26) após levar o celular de uma vítima na região. Depois do assalto, a vítima acionou a polícia pelo telefone 190 e comunicou o fato. O homem estaria portando um faca.

Com as informações, a equipe que estava próxima ao local conseguiu localizar e prender o suspeito. O celular foi recuperado, segundo o comandante.

— A maioria dos relatos que recebemos é pelo WhatsApp, de estudantes que afirmam terem sofrido tentativa de assalto. Só que são mensagens com poucas informações. Não diz como foi, o ponto que ocorreu, se era homem ou mulher que fez a abordagem, se era mais de um suspeito, o que acaba dificultando o trabalho. Mas estamos atuando localizar os autores e fazer as prisões. Nosso interesse é sempre de baixar os índices — argumenta.

O oficial reforça a necessidade do registro de boletim de ocorrência sempre que houver furto, roubo ou qualquer tipo de crime:

— Se houver roubo, furto, a gente pede que as pessoas registrem ocorrências porque elas nos ajudam a monitorar a região e a tomar medidas de forma mais eficaz. Além disso, para situações de emergência, a população deve acionar as equipes pelo telefone 190.

Entre as recomendações de segurança, a polícia orienta que pedestres não manuseiem celular e quantias em dinheiro durante o deslocamento nas ruas, usem bolsas e mochilas na frente do corpo e prefiram se deslocar em vias com maior movimento.

01/07/2022 – G1 RS

Link BBC Brasil: Testes para covid: o que explica teste negativo em tantos infectados - BBC News Brasil
Link G1: Testes para covid: o que explica teste negativo em tantos infectados | Saúde | G1 (globo.com)
Viva Bem UOL:Testes para covid: o que explica teste negativo em tantos infectados - 01/07/2022 - UOL VivaBem
Terra:Testes para covid: o que explica teste negativo em tantos infectados (terra.com.br)

Testes para covid: o que explica teste negativo em tantos infectados

Nos últimos meses, uma cena tem se tornado cada vez mais comum no Brasil e no mundo: a pessoa começa a apresentar sintomas típicos de covid (tosse, coriza, febre…), faz o teste rápido de antígeno e o resultado dá negativo.

Ela continua a ter os incômodos e, um ou dois dias depois, repete o exame que, aí sim, confirma a infecção pelo coronavírus.

O grande perigo é que, nesse meio tempo sem o diagnóstico adequado, não são adotadas as medidas necessárias para reduzir o risco de passar o vírus adiante — como o isolamento e o uso de máscaras.

Isso, por sua vez, cria novas cadeias de transmissão e faz o número de casos da doença crescer.

Mas o que explica esse fenômeno da "positividade atrasada"? Embora não existam respostas claras, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil citam as hipóteses que ajudam a entender esse cenário. Eles também apontam o que fazer para proteger a si e todo mundo ao redor.

Em resumo, apesar de o assunto estar envolvido em muitos mistérios, a recomendação é simples: se você apresentar sintomas típicos de covid, fique em isolamento e evite o contato com algumas pessoas, mesmo se o teste rápido de antígeno feito no primeiro ou no segundo dia der um resultado negativo. E, se possível, tente repetir o exame entre o terceiro e o quinto dia para ter mais certeza sobre o diagnóstico.

O vírus ficou mais veloz?

O primeiro fator que permite explicar esse cenário é a chegada das novas variantes do coronavírus, especialmente aquelas que surgiram a partir da ômicron, como a BA.2 e a BA.5.

O espalhamento delas mundo afora veio seguida de uma mudança importante na incubação, que é o tempo entre o vírus começar a invadir as células do nosso corpo e o início dos sintomas.

"O vírus entra nas células e faz ali dentro entre cem e mil novas cópias de si mesmo, que vão sair para infectar outras células e continuar esse processo, até que o sistema imunológico reaja e cause os sintomas, como nariz escorrendo, espirros, febres…", explica o virologista José Eduardo Levi, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Dasa.

A título de comparação, de acordo com um relatório da Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido, a incubação da variante alfa durava, em média, de cinco a seis dias.

Durante a onda da delta, essa janela caiu para quatro dias.

Já na ômicron, o período entre a invasão viral e o início dos sintomas sofreu uma nova redução e fica em apenas três dias.

Ou seja: se antes a pessoa tinha contato com alguém infectado e levava quase uma semana para manifestar os sinais típicos da covid, atualmente esse processo é bem mais rápido e pode acontecer quase de um dia para o outro.

"O que mais vemos em nossos consultórios são pacientes que dizem ter passeado no domingo e já apresentam os sintomas da doença na terça ou na quarta-feira", conta a infectologista e virologista Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Mas por que isso está acontecendo?

Vírus diferente, defesas atualizadas

Entre as possíveis teorias que ajudam a entender essa ação mais ligeira da ômicron, alguns especialistas apontam que as próprias mutações genéticas que essa variante carrega encurtaram o tempo de incubação.

Outros também chamam a atenção para o papel do sistema imunológico nesse processo.

Numa série de postagens no Twitter, o imunologista e epidemiologista Michael Mina, que trabalhava na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e atualmente é o diretor científico de uma empresa de testagem, defende que a vacinação "mudou de forma fundamental a relação entre os sintomas de covid e a carga viral".

Anteriormente, os sintomas da covid costumavam aparecer justamente no momento em que a quantidade de vírus no organismo atingia o pico.

"Por que as pessoas agora estão apresentando sintomas, mas o resultado do teste rápido dá negativo?", questionou.

"Os sintomas que sentimos são geralmente o resultado da resposta imune. As vacinas fazem o nosso sistema de defesa detectar o vírus mais rápido, antes que a quantidade de cópias dele atinja o pico. Esse é literalmente o propósito da vacinação", escreveu ele na rede social.

Seguindo na explicação, Mina aponta que a resposta imune rápida ajuda a suprimir o vírus por um tempo, até que o patógeno seja eliminado do organismo ou eventualmente consiga vencer essa batalha e comece a se replicar com mais força.

"Com isso, um teste criado para detectar uma certa quantidade de vírus será negativo nos primeiros dias, antes que a carga viral aumente", argumentou o cientista.

Em outras palavras, uma das teorias aventadas aponta que, com a ômicron, o tempo de incubação curto e o aparecimento de sintomas mais cedo faz com que a carga viral (a quantidade de coronavírus em ação) logo nos primeiros dias de infecção não seja alta o suficiente para ser detectada pelos testes rápidos de antígeno.

Mas vale ressaltar que essa é apenas uma das possíveis explicações para esse fenômeno e a ideia está longe de estar comprovada ou ser consenso entre os especialistas.

"O sistema imune também depende de uma certa quantidade de partículas virais para ser ativado e iniciar uma resposta. Então, me parece que a imunidade criada a partir da vacinação ou de quadros prévios de covid vai contribuir mais para terminar rapidamente a infecção do que para o início do quadro", avalia Levi, que também faz pesquisas no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP).

Em todo caso, existem evidências de que a quantidade de proteínas virais nesses primeiros dias de infecção realmente pode ser mais baixa nas ondas da ômicron.

"Com isso, há um risco de os testes de antígeno falharem na detecção desses casos, já que não existem partículas suficientes para obter um resultado positivo", resume o virologista Anderson F. Brito, pesquisador científico do Instituto Todos pela Saúde.

"Portanto, temos que tomar cuidado na interpretação desses resultados iniciais, até para não criarmos uma falsa sensação de segurança", adverte.

Falha humana e interpretação dos testes

Ainda dentro dessa discussão, não dá pra ignorar o fator humano por trás de erros nos resultados.

O teste de antígeno, que pode ser feito em casa pela próxima pessoa, tem uma série de procedimentos bem específicos — separar os materiais, lavar as mãos, passar a haste no fundo do nariz e da garganta por um tempo mínimo, misturar com soro, esperar alguns minutos, pingar a quantidade exata no dispositivo…

e uma dessas etapas não é feita da maneira adequada, o resultado pode ser um falso negativo.

"Não dá pra confiar na conclusão de um teste mal feito", diz Bellei, que também integra a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A médica destaca a variação da qualidade dos exames disponíveis nas farmácias.

"Há muita diferença na sensibilidade e na especificidade dos testes rápidos. Alguns conseguem detectar 80% dos casos, enquanto em outros essa taxa cai para 70% ou 50%", compara.

Embora não exista uma maneira fácil e acessível de saber quais são os produtos mais confiáveis, Bellei orienta que as pessoas deem preferência, se possível, às marcas mais conhecidas, de empresas que trabalham com diagnósticos há décadas.

Uma segunda dica importante é ler atentamente as instruções que vêm com o kit e obedecer cada etapa à risca para diminuir a probabilidade de erros e resultados distorcidos.

Nesse sentido, também foram levantadas muitas dúvidas se os testes de antígeno seriam capazes de detectar as linhagens da ômicron, que trazem muitas mutações em comparação com as variantes anteriores.

Essa hipótese, porém, mostrou-se falsa. "O teste de antígeno detecta principalmente a proteína N do coronavírus", explica Levi.

"E sabemos que a ômicron apresenta mais mutações na proteína S, que não costuma ser o alvo principal desses exames", complementa.

Ou seja: os testes rápidos continuam a funcionar relativamente bem para flagrar as novas variantes.

Talvez o cerne da questão esteja em entender o momento certo de fazer esse exame — e, a partir daí, como interpretar os resultados e tomar as medidas necessárias.

O que muda no diagnóstico?

Diante de todas essas alterações observadas no comportamento do vírus e no nosso sistema imune, a principal mensagem é relativamente simples: se você estiver com sintomas típicos de covid, como dor de garganta, tosse, espirros e febre, evite o máximo possível o contato com outras pessoas para não transmitir o agente infeccioso para elas.

Você confere a lista completa dos sinais da doença nesta reportagem da BBC News Brasil:

Os principais sintomas de covid em quem tomou duas ou mais doses de vacina

Essa orientação vale mesmo para as pessoas que fizeram um teste logo nos primeiros dias e o resultado foi negativo — como explicado mais acima, ainda não é possível ter 100% de certeza e pode ser que a carga viral ainda não esteja suficientemente alta para ser detectada pelo exame.

O tempo de quarentena varia de acordo com uma série de condições, mas um período de cinco a sete dias costuma ser o suficiente para a maioria das pessoas.

Veja quantos dias de isolamento são necessários para cada situação no link a seguir:

Se você fez o teste no primeiro ou no segundo dia de sintomas e o resultado foi negativo, vale repetir o exame no terceiro, no quarto ou no quinto dia, se possível.

Uma pesquisa ainda não publicada da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, no Reino Unido, mostrou que o pico de carga viral costuma acontecer justamente até três dias após o início dos sintomas.

Com isso, caso você esteja realmente com covid, será mais provável pegar esse pico da carga viral, quando a quantidade de vírus estará alta o suficiente para o teste dar positivo.

"E é importante notificar o resultado para a unidade de saúde mais próxima de sua casa, para eventualmente confirmar o diagnóstico por meio de outros métodos mais precisos, como o RT-PCR, e para que o caso seja contabilizado nas estatísticas oficiais", ressalta Brito.

Vale, claro, manter o isolamento e evitar o contato com outras pessoas, especialmente aquelas mais vulneráveis à covid, como idosos e imunossuprimidos, durante esse período de incerteza entre um teste e outro.

Outro ponto fundamental é manter a vacinação atualizada.

"As variantes até 'aparecem' mais cedo, mas quem está com todas as doses em dia transmite menos coronavírus em comparação com quem não possui o esquema vacinal completo", informa a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Um estudo feito na Universidade de Seul, na Coreia do Sul, mostra justamente isso. Indivíduos vacinados que pegam covid podem transmitir o coronavírus por quatro dias, em média. Já quem está parcialmente imunizado "repassa" o patógeno por até oito dias.

"Fora que a vacina é o que permite a infecção não evoluir para casos mais graves e preocupantes na maioria das vezes", completa a especialista, que também integra a SBI.

Por ora, o Ministério da Saúde recomenda uma quarta dose de vacina para toda a população com mais de 40 anos. Entre os 12 e os 39, são indicados três doses. Já para crianças de 5 a 11 anos, duas doses.

UFCSPA - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (2024)

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